20. Jessica Rabbit
Comecemos, pois, pela representante das personagens de animação. Jessica Rabbit atraia a atenção de todos os homens do elenco de Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), mas mantinha-se fiel a seu marido, que era, alias, o coelho da tal cilada. Foram necessárias três mulheres de verdade para criar a de fantasia: Kathleen Turner deu voz à personagem durante os diálogos; Amy Irving foi responsável na hora de cantar; e Betsy Brantley foi o modelo para a aparência de Jessica. A personagem feminina que mais chamou a atenção em filmes de animação não poderia deixar de constar. Sereias, princesas e ogras que me desculpem, mas Jessica Rabbit é a escolhida.
19. Princesa Léia Organa
É difícil criar símbolos sexuais que vão além da sua próprio geração, mas a Princesa Léia – de Star Wars (1977); Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980); e Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (1983) – com seus penteados em coque e seu antológico biquini de metal continua sendo fetiche para muitos – há um excelente episódio de Friends que fala sobre isso, por exemplo. Isso sem contar que ela é filha do Darth Vader, mas é do bem. Foi interpretada por Carrie Fisher nos três filmes.
18. Gilda
Não é só o título que é dedicado à personagem. O filme Gilda (1946) é todo de Rita Hayworth, que esbanja atitude, domina a tela e encanta a todos. A cena da dança é patrimônio cinematográfico. “Put the blame on Mame, boys”. Alias, ela é uma das únicas três personagens da lista que dão nome a seus filmes. Sabe quem são as outras duas?
17. Mulher-Gato
Nem só de heroínas bem intencionadas vive o mundo dos super-heróis, e entre as personagens de moral ambígua nenhuma é mais interessante que a Mulher-Gato. É verdade que a pobre personagem viu seu nome arrastado na lama pelo terrível filme estrelado por Halle Berry em 2004. Mas isso não a torna indigna de figurar na lista, ainda mais porque, antes disso, ela havia sido interpretada pela maravilhosa Michelle Pfiffer em Batman – O Retorno (1992), de Tim Burton.
16. Lola Lola
A mulher que fez um respeitado e severo professor perder tudo o que tinha, Lola Lola, do clássico O Anjo Azul (1930), foi interpretada por ninguém menos que Marlene Dietrich, em uma atuação que seria ousada e sedutora até pelos padrões de hoje. Perigosa e inesquecível.
15. Grace Margaret Mulligan
Interpretada em Dogville (2003) por Nicole Kidman – em um desempenho dos melhores que eu já vi – e em Manderlay (2005) por Bryce Dallas Howard, Grace é a síntese das boas intenções que pavimentam o caminho do inferno. Enquanto tenta encontrar o equilíbrio prático entre suas crenças e atitudes (e, por extensão, descobrir quem é), ela inadvertidamente expõe o pior das pessoas e destrói tudo a seu redor.
14. Padmé Amidala
Eis aqui uma mulher que ocupa um cargo de importância (senadora da República Galática) e ainda precisa lidar com a gravidez e problemas no casamento – com um Jedi. Obviamente, não faltam aqueles que queiram traí-la, derrubá-la ou matá-la. Por que é preciso que a estória se passe em uma galáxia distante para podermos ver uma mulher assim em uma grande produção do cinema? O fato de ter sido interpretada por Natalie Portman, uma das atrizes mais talentosas de sua geração, sem dúvida contribui. Apareceu em Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (1999); Star Wars: Episódio II – O Ataque dos Clones (2002); e Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith (2005).
13. Vesper Lynd
As bond girls são praticamente entidades dentro do cinema. E a melhor delas não poderia faltar. Vesper – vista em 007 Cassino Royale – é linda, charmosa, inteligente, sedutora, mas acima de tudo tem personalidade. Não é apenas mais uma mulher para entrar na lista de conquistas do galã James Bond, é um par a sua altura. É, na verdade, a mulher que define a relação de Bond com as mulheres. Eva Green dá vida à personagem, em um desempenho arrebatador.
12. Maria
A expressão máxima da esposa, Maria torna a vida de todos – adultos, adolescentes e crianças – mais feliz. Apóia a todos nas horas de necessidade e os inspira a se desenvolverem por si próprios, com liberdade para descobrir quem são. Quando a situação se torna realmente perigosa, ela não foge da raia. Além disso, A Noviça Rebelde (1965) é o filme preferido da minha mãe, e isso só já bastaria. Maria foi interpretada por Julie Andrews.
11. Lois Lane
Pense no maior super-herói de todos os tempos. Quem poderia fazer par com ele? A resposta é Lois Lane, uma repórter inteligente, ambiciosa, ousada e corajosa, que mesmo sem visão de raio-X ou superaudição consegue sempre saber onde os grandes eventos estão se por acontecer. Interpretada por Margot Kidder em Superman – O Filme (1978), Superman II (1980), Superman III (1983) e Superman IV – Em Busca da Paz (1987); e por Kate Bosworth (em atuação bastante criticada) em Superman – O Retorno (2006), Lois Lane é um símbolo da inserção da mulher – e de seu sucesso – no “mundo masculino” da competitividade e eficiência extremos.
Ufa, dez já foram, faltam agora as top 10. Discordou de muita coisa até agora? Já imagina quem ocupa as primeiras posições? Vamos descobrir.
10. Celine
De uma jovem sonhadora a uma mulher entristecida por anos de vida real, Celine, personagem dos filmes Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do-Sol (2004), é uma das mulheres mais reais, e mais belas, já retratadas no cinema. É interessante ressaltar que os mesmos nove anos que se passaram entre os dois filmes se passaram, dentro da estória, na vida dos personagens, e assim podemos comparar a mesma mulher em duas épocas diferentes, cada uma com sua beleza e seu sofrimento, suas inseguranças e suas certezas. Julie Delpy é a atriz responsável por essa tarefa, e a realiza com primor. E, de quebra, protagoniza um dos melhores finais de todos os tempos – o de Antes do Pôr-do-Sol. Se você não viu esses filmes, veja os dois logo.
09. Hermione Granger
Se a Celine da décima posição representava duas fases da idade adulta de uma mulher, a melhor amiga de Harry Potter cresceu nas salas de cinema, desde a criança que entra para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts até a adolescente que carrega responsabilidades de adulto. Hermione é a mais brilhante aluna de sua turma, tem a lealdade que só se encontra nos melhores amigos, é bonita. Nem por isso deixa de ter aquela insegurança que todas as pessoas interessantes possuem. Em suma, é uma pessoa cheia de nuances e detalhes, em um nível que não é fácil encontrar no cinema. Quando Harry Potter e a Pedra Filosofal foi lançado, em 2001, Emma Watson – atriz que interpreta Hermione – tinha 11 anos. Quando o oitavo e último filme da série – Harry Potter e as Relíquias da Morte parte 2 – chegar aos cinemas, em julho do ano que vem, ela já terá completado 21. Nenhuma outra atriz de que eu me lembre dedicou tanto de sua vida a uma só personagem. Melhor, só se fosse possível encontrá-la dizendo “Accio Hermione”.
08. Dora
Alguém que atravessa um país para ajudar um garoto órfão, que ela recém conheceu, a encontrar seu pai: essa é Dora, personagem de Fernanda Montenegro em Central do Brasil (1998). Dora representa o Brasil que, mesmo enfrentando todo o desencorajamento de um sistema injusto e cruel, não desiste de ter esperança, se não por si, pelos outros. Ela é a mãe criada não pelo parto, mas pela circunstância. Uma personagem tão forte nas mãos da melhor atriz brasileira só poderia ter esse resultado, uma das melhores atuações, se não a melhor, do nosso cinema.
07. Mrs. Robinson
O ícone máximo da mulher mais velha, Mrs. Robinson ganhou música com seu nome, peças de teatro nos EUA, Inglaterra e até no Brasil, e apareceu em uma comédia romântica recente terrivelmente ruim na qual foi interpretada por Shirley MacLaine. Mas foi Anne Bancroft, no filme A Primeira Noite de um Homem (1967), quem imortalizou a mulher casada que seduz o recém-formado Ben Braddock. Ele eventualmente se apaixona pela filha dela, mas não deve nunca ter esquecido de seu breve affair que gerou uma das falas mais conhecidas do cinema: “Mrs. Robinson, you’re trying to seduce me“.
06. Eliza Doolitle
Duas palavras: Audrey Hepburn. Uma das maiores atrizes de toda a História, ela rouba a cena a cada segundo que está na tela neste filme sobre um aristocrata que aposta com seu amigo ser capaz de transformar uma moça simples e rude em uma dama. Enquanto ele a salva da pobreza, ela o ensina a alegria da vida. Parece com Uma Linda Mulher? Pois é, My Fair Lady – Minha Bela Dama (1964) é o Santo Graal das comédias românticas, e inspirou levas de filmes desde seu lançamento. Sem nunca ser batido.
05. Ann Darrow
A bela que derruba a fera, essa é Ann Darrow, a atriz aspirante a estrela que torna-se objeto do desejo de King Kong. Por ela, o gorila gigante encara dinossauros, enfrenta homens armados, destrói metade de Nova York, e eventualmente sacrifica a própria vida. Foi interpretada por Fay Wray em 1933, Jessica Lange em 1976 (nessa versão de King Kong, a personagem recebeu o nome de Dwan) e Naomi Watts em 2005. Os gorilas preferem as loiras.
04. Lolita
Mais que um personagem, Lolita é um símbolo, é uma expressão linguística. Uma das criaturas mais perigosas do planeta, a menina-mulher que sabe que atrai os homens, mas não controla plenamente sua sensualidade tem um efeito tão devastador que nada ao seu redor escapa. Morte, loucura e destruição são seu rastro, mas ela mal os compreende, os vislumbra e segue em frente com sua sutil sedução. Para ela, a vida é um jogo. Que todos os outros perdem. Foi interpretada por Sue Lyon no clássico de Stanley Kubrick (1962) e por Dominique Swain no remake de 1997.
03. Norma Desmond
Gloria Swanson, em uma das melhores atuações femininas da História, encarna a ex-estrela que não consegue lidar com a perda da fama. Consumida pela decepção e andando no limite entre sanidade e loucura, ela aposta suas fichas em um roteirista fracassado. Geralmente, títulos de filmes no Brasil são terríveis, quando se afastam da tradução do título original. Esse caso é a exceção: embora óbvio, Crepúsculo dos Deuses resume bem a personagem Norma Desmond. Ela representa o fim de uma era, a derrota do velho pelo novo e o sofrimento daqueles que se vêm deixados para trás no processo. Muitos são os bons diálogos, mas minha frase preferida da personagem é a que ela dá em resposta ao roteirista, quando ele diz que ela costumava ser grande: “Eu SOU grande. Os filmes é que ficaram pequenos.” O filme é de 1950.
02. Blanche DuBois
A lista já trouxe muitas mulheres fortes que, com sua beleza e atitude, deixam rastros de corações partidos e ilusões destroçadas. Mas um dos maiores ícones do cinema representa o oposto disso: uma mulher tão pressionada pela mudança da ordem das coisas que é levada à depressão e à loucura. Vinda de uma família rica do velho sul dos EUA, Blanche encontra-se sem dinheiro, passa a morar com a irmã Stella e o cunhado Stanley, a quem odeia profundamente. Alternando-se entre dolorosos contatos com a realidade e fantasias de uma vida perfeita, o que sobra de Blanche ao final é uma mulher partida, destruída por um mundo ao qual não conseguiu se adaptar. Blanche DuBois foi levada às telas muitas vezes, mas nenhum tão marcante quanto a interpretação de Vivien Leigh no filme Uma Rua Chamada Pecado, dirigido por Elia Kazan em 1951, no qual Leigh fez par com Marlon Brando.
Ah, chegamos à primeira colocação. Quem você acha que é? Uma mulher feminina, durona, dona de casa, alta executiva? Duas pistas: espaçonaves e ressurreição.
Na carreira de Sigourney Weaver é possível encontrar personagens que representam quase todas as qualidades citadas durante a lista, e a combinação de uma atriz talentosa e versátil com uma personagem raramente dada a mulheres até então traz como resultado um marco do cinema. Ellen Ripley é a ultimate bitch, melhor personagem feminino da História do cinema, simples assim.
Como prometido, algumas menções honrosas. Para começar, qualquer personagem interpretada por Meryl Streep é marcante. O mesmo vale para as mulheres de Almodóvar. Mas seria injusto escolher uma delas para se sobrepor sobre as outras. Fica então aqui o reconhecimento a elas. Outras mulheres consideradas foram: Beatrix Kiddo (Kill Bill), Sarah Connor (Exterminador do Futuro), Trinity (Matrix) e Lara Croft (Tomb Raider – todas bem representadas pela Ripley; Clarice Starling (O Silêncio dos Inocentes e Hannibal), que passou raspando; Amélie Poulain; e Alice, personagem de Natalie Portman em Closer – Perto Demais.