O que você faria se a sua filha de 7 anos estivesse muito amiga de um esquisitão de 31, fazendo com ele demorados passeios de canoa e posando para seus retratos artísticos? Em vez de chamar a polícia – como qualquer família normal – a de Alice Pleasance Liddell incentivou seu relacionamento com Charles Dodgson, um escritor que assinava como Lewis Carroll. E a menina acabou sendo a musa inspiradora dos clássicos Alice no País das Maravilhas (1865) e Através do Espelho (1871) – este inclusive termina com um poema em que as primeiras letras de cada estrofe formam o nome da menina. Até hoje não é claro o que exatamente estava rolando entre a menina e o escritor. Especula-se, e ninguém poderia deixar de especular, que havia uma paixão, consumada ou não. Sempre se acreditou que, quando ele deixou de frequentar a casa dos Liddell subitamente, em 1863, foi porque os pais de Alice haviam resolvido dar um basta naquele relacionamento inapropriado. Mas documentos descobertos pela biógrafa Karoline Leach mostram que Carroll talvez fosse tão simpático com Alice e suas irmãs porque estava interessado mesmo era na governanta da casa.
Já adulta, Alice soube usar a fama da personagem a seu favor. Mãe de 3 filhos e apertada de grana após a morte do marido rico, leiloou o valioso manuscrito de As Aventuras de Alice Embaixo da Terra (primeiro nome de Alice no País das Maravilhas). Ela já não mantinha contato com Lewis Carroll. O escritor anotou em seu diário que se lembraria dela pra sempre “como aquela menininha de 7 anos completamente fascinante”.
Não eram só passeios de barco que Carroll, já com uns trinta anos nas costas, fazia com meninas - apenas meninas - pequenas. O cara curtia a companhia delas, inventava joguinhos... Ele se sentia tão à vontade que, dizem, só gaguejava quando estava entre adultos, nunca entre as 'amiguinhas' (como ele as chamava nas cartas).
Até aí, insólito, mas OK. O que bota lenha na fogueira mesmo é o fato de que o escritor, amante de fotografia, realizou muitos ensaios fotográficos com as meninas, inclusive com elas totalmente peladas. Sim, minha gente, essas fotos existem, mas não quis publicá-las aqui. Afinal, ele era um pedófilo?
Eu não irei postar aqui, mas irei redirecionar a um link que leva à uma delas clique aqui
Bom, não existe nenhuma prova de que o criador de Alice tenha tido relações reais com crianças. Mas Sandra Vasconcelos, professora de Literaturas de Língua Inglesa da USP, explicou no maravilhoso Literatura Fundamental, da Univesp TV, que, no fim do século XIX, a ideia de pedofilia não existia e a idade de consentimento era de doze anos (Wikipédia: "idade abaixo da qual se presume legalmente que houve violência na prática de atos sexuais"). Ou seja, mesmo que ele tivesse atração por garotas, não seria o crime e a perversão que a gente enxerga com os olhos de hoje.
Pessoalmente, as fotos tiradas por Carroll realmente me assustam não só pela nudez infantil, mas principalmente pelas poses adultas com que as meninas foram retratadas. Tem uma, por exemplo, de uma garotinha deitada na grama, encarando a câmera sem roupa alguma, com os braços atrás da cabeça, costelas saltadas, uma perna esticada e a outra dobrada - meio Rose 'como as modelos francesas' no Titanic, sabe? Para mim não tem nada de angelical, apesar de estudiosos dizerem que a peladice das crianças, na época, era comum e representava a inocência. Tanto que os pais autorizavam suas filhas a serem fotografadas daquele jeito. Só que tem algo que me intriga: Carroll pediu para que seus retratos fossem destruídos após sua morte (os que conhecemos hoje são apenas os que escaparam). Por quê, se eles eram normais naquele contexto?
Outro mistério que ronda essa polêmica é que, depois de tanta amizade (e antes mesmo que Alice no País das Maravilhas estivesse concluído), a mãe de Alice Liddell cortou relações com Carroll. Os motivo dessa briga são desconhecidos: será que ela descobriu algo de que não gostou? Pode ser. Mas há até uma teoria que diz que, na verdade, era a matriarca quem tinha um caso com o escritor.