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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

A rotina de vida e morte no Campo de Auschwitz

Saiba como funcionavam os campos de trabalho forçado e extermínio onde morreram mais de 1 milhão de pessoas na Segunda Guerra Mundial...



O Campo de Auschwitz era uma área de 40 km² na região da Alta Silésia, na Polônia. O complexo era formado por três campos principais – sendo dois de trabalho forçado e um apenas de extermínio – e mais 39 subcampos. Ao longo da 2ª Guerra Mundial, presos políticos, judeus de toda a Europa, homossexuais, ciganos e comunistas morreram lá – 1,1 milhão de pessoas (no total, os nazistas mataram 5,5 milhões de judeus e 500 mil ciganos na 2ª Guerra). Nesta reportagem, contamos o que era Auschwitz e o terrível destino dos que eram mandados para lá.

O que era Auschwitz




O começo – Auschwitz I
Com o plano nazista de expansão no Leste Europeu, Rudolf Höss, capitão da SS, a polícia do Estado, inaugurou o campo Auschwitz I em 1940 para abrigar prisioneiros políticos. A ideia era que eles trabalhassem forçadamente até morrer. Mas a invasão da União Soviética em 1941 aumentou o número de detidos e o campo precisou se expandir.


A continuação – Auschwitz II Birkenau
Esta segunda unidade já foi concebida, desde o início, como um campo de extermínio. Inaugurado em 1942, ele era projetado para manter até 10 mil presos de uma vez só – grande parte formada por oficiais inimigos e, após alguns meses, judeus. As primeiras câmaras de gás foram criadas após um ano de existência, improvisadas em barracões. No total, eram quatro. Aqui chegaram a matar 8 mil pessoas por dia.
O terceiro elemento – Auschwitz III Monowitz
Também aberto em 1942, Auschwitz III originalmente era um subcampo. Mas, por causa da riqueza da região em recursos naturais, como água, cal e carvão, tornou-se o terceiro maior do complexo. Acabou virando um centro de trabalho escravo de prisioneiros que coletavam recursos para o complexo industrial de Auschwitz. Grandes empresas, como a Siemens-Schuckert e a IG Farben, usavam a mão de obra escrava. A expectativa de vida em Monowitz era de quatro meses.
Os subcampos
Entre 1942 e 1944, mais 39 subcampos de trabalho forçado foram fundados na região, com o objetivo de explorar as minas locais e fabricar armas utilizando mão de obra escrava. O número de prisioneiros nesses locais podia variar de dezenas a milhares, existindo até campos só para as mulheres
O trem
Os presos chegavam de trem. Durante as viagens, eles chegavam a ficar dias sem água ou comida. Não havia banheiro, somente um balde em cada vagão. As janelas eram lacradas e quase não havia luz. Muitos morriam ou chegavam ao campo à beira da morte. Quando o trem adentrava Auschwitz, era feita a seleção. Crianças, idosos e doentes iam direto para a câmara de gás, pois não serviam como mão de obra

A rotina no campo


1. Os presos eram divididos em blocos, barracões com capacidade para 700 pessoas, mas que chegaram a abrigar 1.200 cada um. Eles eram tão lotados que os prisioneiros precisavam dormir de lado para caberem todos. Não existia banheiro – as necessidades eram feitas em baldes no meio do alojamento. A temperatura podia chegar a -30 oC no inverno, pois não havia aquecimento.


2. Normalmente, os presos eram acordados por volta das 5h da manhã pelos oficiais de forma brutal, com gritos e violência. Eles eram contados e, depois, podiam ficar enfileirados durante horas, só para já começarem o trabalho exaustos. Seleções para decidir quem deveria morrer podiam acontecer a qualquer momento.


3. Depois da checagem, os presos recebiam o café da manhã. Ele consistia em sopa de algumas ervas daninhas e batata, uma fatia de pão com castanhas e serragem, um pouco de salsicha (a carne podia vir de animais doentes) e margarina de linhito (uma espécie de carvão). Ao final da jornada de trabalho, eles recebiam mais um pouco de comida, a mesma do café. Comia-se em tigelas e cada um tinha a sua. Quem perdesse essa cuia não poderia comer, por isso era o item mais cuidado pelos prisioneiros.


4. A jornada de trabalho podia durar 12 horas. As atividades incluíam faxina, escavação de minérios, construção de trilhos para o trem, costura e produção de roupas, entre outras. Os prisioneiros atuavam nas atividades envolvendo morte: recolhiam e enterravam corpos, preparavam covas, separavam roupas, buscavam ouro nas bocas dos cadáveres e operavam os incineradores.
5. Uma porcentagem pequena de prisioneiros, normalmente os não judeus, conseguia trabalhos com desgaste físico menor, como no Canadá, em Auschwitz II, um barracão de triagem de pertences de prisioneiros. Alguns eram cozinheiros e barbeiros e serviam diretamente os oficiais nazistas – esses presos apanhavam menos e tinham alguns privilégios, como comida melhor.
6. Para as mulheres, a situação era ainda pior. Consideradas inferiores, eram espancadas, separadas dos filhos e usadas em experimentos de esterilização. As não judias eram prostituídas (havia um bordel em Auschwitz I) e estupradas. Embora nascimentos tenham sido registrados em Auschwitz, muitas abortavam com medo de represálias. Assim como os homens, trabalhavam até a morte.
7. As taxas de suicídio entre prisioneiros eram especialmente altas em dois trabalhos. Um deles era a banda formada por judeus que tocava música durante o despertar e na chegada do trem. O outro era o dos sonderkommandos, um grupo, também de judeus, que preparava crianças e idosos para morrerem e depois tinha que procurar ouro na boca dos cadáveres
8. Milhares morriam todos os dias. Se não eram executados pelo gás, os prisioneiros morriam de tanto trabalhar, de frio, por doenças, por suicídio, por experimentos médicos ou pela violência dos guardas. Era comum que, em um barracão onde dormiam 500 pessoas, seis fossem descobertas mortas todos os dias ao amanhecer

Os métodos de morte


A) Fuzilamento
Inicialmente, execuções com armas de fogo eram o método mais utilizado para matar. Muitas vezes, os presos eram levados para as proximidades dos campos, obrigados a cavar a própria cova e depois enfileirados para morrer. Mas os oficiais começaram a não dar conta: eles precisavam de um método mais eficaz e menos perturbador (para eles)
B) Dinamite
Os nazistas começaram a fazer experimentos com métodos de assassinato em massa, e até dinamite chegou a ser usada. O teste ocorreu em um local próximo de Auschwitz, onde presos foram trancados em um cômodo e depois explodidos. Não funcionou por causa da bagunça: os pedaços de corpos ficaram espalhados e presos nas árvores
C) Monóxido de carbono
Em 1941, as primeiras mortes por gás foram realizadas na Polônia, em um gueto perto da cidade de Chelmno. Em uma câmara improvisada dentro da traseira de um furgão, as vítimas morriam após inalarem durante minutos monóxido de carbono, método usado dois anos antes para matar deficientes mentais
D) Experimentos
Josef Mengele foi um médico nazista conhecido pelos seus experimentos desumanos. Começou a trabalhar em Auschwitz-Birkenau em 1943 e se tornou o ser humano mais temido do complexo. Ele realizava todos os tipos de bizarrice e tinha uma curiosidade particular por gêmeos. Ele gostava de amputar membros de um irmão para ver se o outro sentia falta daquele pedaço
E) O gás Zyclon-B
As câmaras de gás, que só em Auschwitz mataram cerca de 500 mil pessoas, foram desenvolvidas apenas em 1942. O pioneiro do método foi Karl Fritzsch, um funcionário da SS que lacrou as janelas e portas de um compartimento cheio de presos. Depois, por uma abertura no teto, jogou o veneno – ácido cianídrico cristalizado, usado para desinfetar roupas. Em contato com o ar, a substância vira um gás letal
F) Grelha
Muitas vezes, o número de cadáveres era tão grande que os crematórios dos campos não eram suficientes e, para tornar Auschwitz uma fábrica de morte impecável, peritos em eliminações de corpos inventaram uma espécie de grelha. Nela, camadas de pessoas mortas eram intercaladas com grades de ferro e, depois, queimadas
A câmara de gás

I. Os prisioneiros não sabiam que seriam executados. Eles achavam que estavam sendo levados para tomar banho. Antes de entrarem na sala, eles eram despidos.
II. Cerca de 800 pessoas cabiam numa câmara de Birkenau. As cápsulas de Zyklon-B eram despejadas por buracos no teto. Em contato com o ar, a substância virava o gás letal. Quando percebiam a situação, as vítimas pisoteavam e esmagavam umas às outras tentando sair. Em 30 minutos, todas estavam mortas.
III. Os fornos ficavam dentro dos mesmos prédios que as câmaras. Os corpos eram levados para lá e queimados. As cinzas eram jogadas em rios.


FONTES Livros Encyclopedia of Camps and Ghettos, 1933-1945, organizado por Geoffrey P. Megarage, Auschwitz, the Nazis & the ‘final Solution’, de Laurence Ress, A Lucky Child: A Memoir of Surviving Auschwitz as a Young Boy, de Thomas Buergenthal, e Fresh Wounds: Early Narratives of Holocaust Survival, editado por Donald L. Niewyk; série documental Auschwitz, the Nazis and the Final Solution, documentário A Day in Auschwitz, produzido por Shoah Foundation em associação com Discovery Networks International