A preocupação em retratar positivamente personagens LGBT para o público infantil é muito, muito recente. Hoje em dia, seriados animados incríveis como Steven Universo e A Lenda de Korra mostram às crianças que viver fora da heteronormatividade é uma possibilidade, e que não há nada de errado com isso – algo inimaginável nas décadas de 1980 e 1990. Na falta de indicações intencionais e explícitas, restou aos telespectadores queer do século passado se apropriarem dos personagens que tinham à mão. Agora que as crianças que cresceram com o nariz no televisor chegaram à vida adulta, vários de seus heróis da infância tornaram-se símbolos LGBT, mesmo contra a vontade de seus criadores. Confira a seguir alguns deles.
Kimberly, a Power Ranger Rosa
De todos os Power Rangers, aquela que mais cativava o imaginário dos proto-LGBTs era, sem dúvida, Kimberly Hart, a Ranger Rosa. Ela era a personagem na série que todos os garotos héteros e meninas lésbicas queriam namorar, e que várias Manas gostariam de ser. Interpretada por Amy Jo Johnson (que depois participaria da série Felicity), ela era a mais linda, a mais graciosa, e a mais fashion – de todas as Power Rangers, ela era a única que usava minissaia. Além disso, seu interesse romântico era o galã Tommy Oliver, inicialmente o malvado Ranger Verde, que depois se tornava o líder do grupo como o Power Ranger Branco. Nenhuma das encarnações subsequentes dos Power Rangers conseguiu superar o fascínio de Kimberly nas mentes infantis queer.
Fred, Scooby-Do
O Nosso coração sempre dava um pulão quando víamos o Fred entrar em cena, não importava qual fosse a versão do desenho. Loirão, saradão, sempre bem vestido, esportista e com um sorriso de matar – a gente não sabia, mas, quando crescesse, acabaria correndo atrás desse tipo de boy com mais afinco que Salsicha e Scooby corriam dos vilões. E talvez nosso sonho infantil não era totalmente em vão: por mais que Daphne se jogasse em cima de Fred, o bonitão da Máquina Mistério nunca reparava na ruiva (ou a ignorava…), apesar de sempre ficar a sós com ela toda vez que a turma se separava para desvendar o mistério do dia. A sexualidade de Fred para sempre vai permanecer uma incógnita, mas seu valor como ícone LGBT está longe de ser um enigma.
Jam e as Hologramas
Muito antes de Miley Cyrus ganhar fama interpretando a vida dupla de Hannah Montana, as animações já traziam uma popstar com identidade secreta: Jem, do grupo Jem e as Hologramas, versão glamurosa da jovem Jerrica Benton. Criada pelo mesmo time responsável por G.I. Joee Transformers, essa série acompanhava as manobras que Jem e sua banda faziam para manterem secreta sua tecnologia holográfica e sustentar 12 (isso mesmo, DOZE) filhas adotivas. Como se a banda rival As Desajustadas e seu empresário, o vilão Eric Raymond, já não dessem dores de cabeça o bastante para Jerrica, a heroína ainda tinha que lidar com um triângulo amoroso inusitado: seu namorado Rio Pacheco vivia dividido entre Jerrica e Jem, ou seja, entre ela e ela mesma. Numa época em que viver no armário era o que se esperava de gays e lésbicas, os esforços de Jerrica para conseguir lidar com sua vida dupla acabaram reverberando no imaginário de vários pequenos telespectadores. Sem falar que a montação de Jem é tudo #diva.
A Pequena Sereia
Fred, Scooby-Do
O Nosso coração sempre dava um pulão quando víamos o Fred entrar em cena, não importava qual fosse a versão do desenho. Loirão, saradão, sempre bem vestido, esportista e com um sorriso de matar – a gente não sabia, mas, quando crescesse, acabaria correndo atrás desse tipo de boy com mais afinco que Salsicha e Scooby corriam dos vilões. E talvez nosso sonho infantil não era totalmente em vão: por mais que Daphne se jogasse em cima de Fred, o bonitão da Máquina Mistério nunca reparava na ruiva (ou a ignorava…), apesar de sempre ficar a sós com ela toda vez que a turma se separava para desvendar o mistério do dia. A sexualidade de Fred para sempre vai permanecer uma incógnita, mas seu valor como ícone LGBT está longe de ser um enigma.
Jam e as Hologramas
Muito antes de Miley Cyrus ganhar fama interpretando a vida dupla de Hannah Montana, as animações já traziam uma popstar com identidade secreta: Jem, do grupo Jem e as Hologramas, versão glamurosa da jovem Jerrica Benton. Criada pelo mesmo time responsável por G.I. Joee Transformers, essa série acompanhava as manobras que Jem e sua banda faziam para manterem secreta sua tecnologia holográfica e sustentar 12 (isso mesmo, DOZE) filhas adotivas. Como se a banda rival As Desajustadas e seu empresário, o vilão Eric Raymond, já não dessem dores de cabeça o bastante para Jerrica, a heroína ainda tinha que lidar com um triângulo amoroso inusitado: seu namorado Rio Pacheco vivia dividido entre Jerrica e Jem, ou seja, entre ela e ela mesma. Numa época em que viver no armário era o que se esperava de gays e lésbicas, os esforços de Jerrica para conseguir lidar com sua vida dupla acabaram reverberando no imaginário de vários pequenos telespectadores. Sem falar que a montação de Jem é tudo #diva.
A Pequena Sereia
Não é apenas pelas músicas incríveis que o longa animado A Pequena Sereia foi um enorme sucesso, a ponto de mais tarde render uma série animada. Os paralelos entre Ariel e seus fãs LGBT (crianças ou adultos) são vários: a vontade de fazer parte de um mundo diferente daquele em que cresceu, mais livre; a paixão por um cara lindo e aparentemente impossível; a decisão de contrariar a família para fazer o que manda o coração; o longo processo de sedução em que só se pode soltar as insinuações para o amado, sem dizer nada…
Hans Christian Andersen, autor da fábula original, era gay. Em 1836 seu amigo e grande amor, Edvard Collin, se casou, apesar de cartas em que Andersen confessava seu amor. Em crise, o autor escreveu A Pequena Sereia logo depois: a sereia muda seria um alter-ego para o próprio fabulista, incapaz de declarar seu amor ao mundo; o príncipe representaria Edvard. Na história original, o príncipe casa-se com uma mulher que acredita tê-lo salvado de um afogamento, quando quem o salvou na verdade foi a sereia. Ao fim da história, ela deve matá-lo para retornar ao mar, mas, quando vê que o príncipe vive feliz, desiste. Ela então morre e torna-se espuma.
He-Man
É praticamente impossível não considerar He-Man um ícone gay. Ele tem o corpo que todas as barbies gostariam de ter, exibe um bronzeado de dar inveja, e corre de um lado para o outro só de sunga e harness. Sua identidade secreta, o príncipe Adam, languidamente banca o boboca com seu coletinho rosa e cuequinha roxa – só falta falar pro Pacato: “gata, nem adianta se esconder, você sabe que não vai fugir da minha espada”.
As Meninas Super Poderosas
Esse que foi um dos maiores sucessos dos cartoons dos anos 1990 é um verdadeiro banquete queer. Pra começar, Florzinha, Lindinha e Docinho foram criadas no laboratório pelo professor Utônio, que assim conseguiu ter filhas sem ajuda de mulheres #significa. Enquanto Florzinha e Lindinha representam as garotas que curtem serem “menininhas”, a enfezada Docinho representa as molecas – mas nenhuma das três baixa a cabeça para os meninos. Um de seus vilões mais icônicos é Ele, um diabo crossdresser – não que ele fosse o único: em vários momentos, as meninas se disfarçam de homens, e os homens usam roupas “de mulher”. Os Meninos Desordeiros (Durão, Fortão e Explosão), versão má das heroínas, tinham dois pais, o Macaco Louco e Ele, e os personagens da série não viam o menor problema nisso.
Mas é principalmente em sua desobediência aos padrões de gênero que as Meninas Superpoderosas deixam sua marca. Em um episódio, Docinho argumenta que “só porque uma certa pessoa possui potes plásticos em casa não significa que ela é uma mulher”. “Isso”, concorda a Florzinha, “meninos também precisam guardar seus restos de comida!”. Em outro, Lindinha comenta: “Aposto que o nosso vizinho é muito forte e másculo”. Ela é logo repreendida por Florzinha: “Lindinha! Mulheres podem levantar peso também!”. Mas o melhor acontece quando um super-herói tenta lhes ensinar os papéis de cada gênero: “Existem algumas funções desempenhadas só por homens ou por mulheres, certo? Vejam sua família, por exemplo. Quem trabalha fora e sustenta a casa?”, pergunta. “Nosso pai”, respondem as meninas. “Exato! E quem cozinha?”. “Papai”. “Quem lava as roupas? Quem lava a louça? Quem faz bolo?”. “Papai”, responderam todas as vezes. “Então quem corta a grama do quintal e lava o carro?”, ele insiste. “A Lindinha!”, respondem as três.
Tinky Winky, Telettubies
De todos os personagens dessa lista, provavelmente nenhum causou tanta polêmica quanto Tinky Winky, o Teletubby roxo. Enquanto as crianças assistiam, encantadas, esses bichinhos fofos e esquisitos repetirem a mesma palavra sem parar, os adultos surtavam. Em 1999 o televangelista norte-americano Jerry Falwell condenou a série por estar usando Tinky Winky para ensinar a homossexualidade para os pequenos: o personagem era roxo (uma das cores da bandeira do arco-íris), tinha um triângulo invertido na cabeça (um dos símbolos dos gays) e carregava uma bolsinha (coisa “de menina”).
Os criadores da série responderam que os Teletubbies não são nem héteros nem gays, são apenas personagens inventados num programa infantil. Mas o estrago já estava feito: antes do bafafá, nenhum adulto sem filhos em casa se sujeitaria a prestar atenção às psicodélicas historinhas educativas dessas quatro criaturas; depois que Falwell apontou para a série, a comunidade LGBT adotou Tinky Winky como um de seus símbolos.
Bert e Ernie da Sesame Street
Aqui no Brasil a Vila Sésamo foi sucesso nos anos 1970, mas não muito além dessa década: nós brasileirinhos da década de 1980 preferimos aprender as letras do alfabeto com uma loira seminua que chutava um anão vestido de tartaruga. Nos EUA, no entanto, há mais de 40 anos os fantoches da Sesame Street educam os americaninhos. Entre os personagens principais da série estão Bert e Ernie, dois amigos que moram juntos no mesmo apartamento. Tanto tempo morando juntos, sem mais ninguém que lhes alegrasse o coração… Não teve jeito: as guei norte-americana declararam que os dois são um casal. Não adiantou os criadores da série declararem que a dupla não é gay nem hétero porque “eles não existem da cintura pra baixo”. O musical Avenue Q, uma paródia de Sesame Street, satirizou a relação de Bert e Ernie nos personagens Nicky e Rod, esse último um gay enrustido apaixonado pelo colega de apartamento. Na semana em que a Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou o Defense of Marriage Act (DOMA), decisão que levaria à legalização do casamento homoafetivo em todo o país dois anos depois, a revista New Yorker colocou os dois personagens em sua capa, uma das imagens mais comoventes da história do movimento LGBT.