Muitas pessoas no paÃs temem que o real propósito da agência federal Fema seja aprisionar, escravizar e até matar cidadãos de bem
ALERTA GERALEm 1979, o presidente dos EUA, Jimmy Carter, criou a Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês). O objetivo dela é coordenar respostas e esforços do paÃs em situações de grandes tragédias no território, como desastres naturais ou atentados terroristas. Mas essa seria uma função de fachada
PRIMEIROS RUMORESEm 1982, o movimento de extrema direita Posse Comitatus, caracterizado pela postura antigoverno e antissemita, divulgou uma tese que dizia que o propósito da Fema era aprisionar patriotas exaltados e pessoas conservadoras e antigovernistas. A agência só estaria aguardando o momento certo para instaurar a lei marcial no paÃs (quando autoridades militares assumem o controle do Estado em momentos cruciais)
TERRORISMO DOMÉSTICOEm 1995, a teoria ganhou força após o atentado de Oklahoma, em que o americano Timothy McVeigh matou 168 pessoas. A Fema foi acionada para lidar com a tragédia, e a comissão do Senado que discutia terrorismo doméstico abordou a possibilidade de a agência administrar campos de concentração. Na mesma época, o documentário America Under Siege(“EUA sitiados”) mostrava um suposto campo da Fema.
GRUPOS PERSEGUIDOSA Fema também estaria grudando misteriosos adesivos nas caixas de correio, cada um indicando o destino das pessoas. Ponto azul: campo de concentração. Rosa: trabalho forçado. Vermelho: tiro na cabeça. Além disso, cerca de 500 mil caixões de plástico vazios teriam sido vistos em Atlanta, prontos para serem usados
AUSCHWITZ AMERICANOAté 800 campos estariam prontos para receber as pessoas. Vazios (por enquanto) e fortemente protegidos, eles se espalhariam por todo o território. Alguns teriam até câmaras de gás, como os campos nazistas. Vagões de trem já estariam sendo usados para sumir com cidadãos indesejados
NÃO SERIA A PRIMEIRA VEZApós o ataque do Japão a Pearl Harbor, em 1941, o presidente americano Franklin D. Roosevelt realocou mais de 100 mil americanos de ascendência japonesa que viviam, em sua maioria, na costa oeste do paÃs. Isso sem contar a expulsão dos indÃgenas de suas terras ancestrais, no século 19. Então, os campos da Fema teriam um precedente histórico no paÃs
CULPA DO OBAMA!Durante o governo Barack Obama (2009-2016), a teoria ganhou mais força. Discursos de senadores e deputados, programas na Fox News e filmes postados na internet espalharam seus rumores. Foi o caso de Amerigeddom, de Mike Norris (filho de Chuck Norris). Blogs revelaram que Obama estaria construindo shoppings de fachada para aprisionar americanos e que todos os portadores de armas seriam presos
Por outro lado
Teoria é mais popular na direita dos EUA
Teoria é mais popular na direita dos EUA
- O Posse Comitatus espalha teorias conspiratórias há décadas e usa esse clima de paranoia em prol de sua agenda preconceituosa
- Nos anos 2000, as lendas dos campos se esvaÃram porque os EUA estavam preocupados com o terrorismo internacional – o inimigo agora estava fora do paÃs
- Os campos de America Under Siege são instalações da Amtrak, empresa ferroviária estatal dos EUA
- Outros campos divulgados na internet são, na verdade, bases de treinamento das Forças Armadas
- Os “caixões” existem. Mas eles são forros para sepulturas, usados para proteger caixões e evitar a degradação do solo de cemitérios
- A Fema já se pronunciou publicamente sobre o assunto, e o tratou como uma teoria da conspiração sem base alguma
- O próprio apresentador da Fox News que falou dos campos em seu programa disse que não acredita na teoria
- Os blogs que espalharam as informações dos shoppings e dos adesivos coloridos são comprovadamente divulgadores de notÃcias falsas
- A fase atual da teoria é fruto dos tempos de pós-verdade em que a internet vive. Quem quer acreditar em algo é servido por uma vasta gama de conteúdos, sem se preocupar com a veracidade
- Trata-se mais de uma inversão de papéis em um paÃs onde a maior parte das pessoas encarceradas foram (e são) Ãndios e negros, não a classe média conservadora (branca na maioria)