Musica

Akina Nakamori e Mariya Takeuchi, quando o vinho juntou-se ao champanhe

12:34

 a vez que dois ícones construíram juntas três pérolas da música japonesa


Quando Akina Nakamori surgiu no mercado musical, em 1982, Mariya Takeuchi já era um ícone da música no Japão, já sendo consagrada. Akina construiu seus primeiros álbuns com uma temática bem teen, voltada para o público jovem que acompanhava cada passo da estrela em ascensão. Mas entre 1985 - 86, a cantora estava buscando se libertar da imagem de adolescente rebelde e buscando uma imagem mais séria, mais misteriosa e sensual. No seu álbum Fushigi, que evocava uma liberdade criativa mais ampla, Nakamori já vinha dando pistas de que estava disposta a se reinventar artisticamente. 

Nakamori performando Oh No, Oh Yes

Neste cenário encontrava-se Mariya no processo de divulgação do seu - brilhante - álbum, Highlights (yasuha). Mariya estava mais criativa do que nunca e mais produtiva também. Sua parceria com seu - até então namorado - Tatsuro Yamashita (aka o rei do pop japonês), estava lhe rendendo um processo criativo extremamente original e específico, que mais tarde chamaríamos de City Pop. Essa mistura homogênea de Disco, Funk, Jazz e R&B que estilo trazia, era interessante pra diversos artistas que estavam buscando uma independência da música Kayokyoku e do J-pop. Mariya sempre foi conhecida por ser uma excelente compositora, do rock folk, passando pelo country indo até o famigerado pop synth da década de 80; não havia nada que ela não pudesse compor. Também era a Miss M, conhecida pela sua simpatia com novos artistas, acolá sua deliciosa relação com Seiko Matsuda (a princesinha comportada do J-pop e que se portava como uma espécie de "rival visual" para Akina). Dessa relação nasceram os maiores hits de Seiko: "Sweet Memories", "Crazy Me Crazy For You", "I Will Fallow You", "Watashitachi Wo Shinjite Ite." Estava evidente que como compositora e produtora Mariya era a pessoa perfeita pra entender a essência do que queria ser passado. Vendo Seiko como uma menina doce e de voz melosa, compôs-lhe inspirando em cordas leves, melodias extremamente harmônicas, num quê de romantismo na sonoridade com letras cheias lirismo plumados, como se condessasse a fofura e delicadeza numa coisa só. 

Quando se é alguém consagrado, é normal que os novos artistas mencionem-te como uma referência. E era assim que Seiko, e outras novatas que iam surgindo iam fazendo. Mariya era simplesmente a rainha daqueles anos, ela tinha vendas, tinha hits e tinham aclamação crítica e ter a sua benção era quase que como ser lançada para o mercado com a certeza de que estava preste a hitar também. Todavia porém, isso não acontecia com Akina, que preferiu manter-se distante da imagem de "baba ovo" ou "puxa-saco" construindo uma identidade independente da "benção" de Mariya e pelos anos iniciais da década de 80 essa relação foi bem fria, se não quase nula. Foi só em 1985, justamente quando Akina sabia que precisava reinventar-se que prontamente ela contatou a melhor de todas as compositoras de sua terra. Entendo que Takeuchi tinha um olhar clínico para composição e que ia entender muito bem a essência dessa nova era.

tudo parecia estar ornando

No começo de sua carreira, a cantora havia apostado em vocais mais brilhantes e até mesmo mais femininos, a medida que avançava no seu processo de amadurecimento interpretativo ela ia optando por vocais mais expressivos, centrados na região de peito e tons graves, bem como uma maior exploração do uso do vibrato, tornando este a sua marca registrada até então. Mas, como numa necessidade de explorar uma pouco mais da suas capacidades vocais, Akina então, se especializa num canto mais suave, agudo e sussurrado, mas cheio de expressividade, feminilidade e sensualidade. E foi abandonando aquela imagem extravagante e apostando numa mais frágil, em meio as brumas escurecidas, no véu da neblina, nasce o mais interessante trabalho de Akina, Crimson. É bem verdade que Akina não se entregou ao city pop, gênero este que fez vista grossa, mas adicionou influências e fartas pitadas na produção que se seguia. Aquele swing sensual do Lounge e do Disco que recorda os R&B dos anos 70 serviram como um excelente pano de fundo pra produção bem amarrada que veríamos a seguir. Vale ressaltar que Crimson lembra muito o álbum de 1978 de Mariya, Recall, que também têm uma certa melancolia embocada de alguma sensualidade. Costumo dizer que se o City Pop de Anri, Mariya e Tatsuro era o som que embalava o centro iluminado das grandes cidades, o som do Crimson é aquele que embala os bares escondidos e tardios dos becos escuros e esfumaçados destas mesmas grandes cidades. 

Mariya e Akina trabalharam juntas em sete faixas para o trabalho, que contém dez ao total. Essas foram: "Yakusoku", "Eki", "Oh no, Oh yes", "Anata-o Omeaba Koshuô", "Kazewodakishimete", "Jealous Candle" e na faixa bônus "Mick Jagger"

Yakusoko, Eki e Oh No Oh Yes...

Destas sete faixas com toda certeza a trilogia que abre o álbum é com toda certeza uma das coisas mais interessantes da música japonesa, e da música como um todo. Toda vez que eu escuto estas três faixas eu imagino um mesmo cenário: Akina está sobre sua cama, na madrugada nebulosa, próxima ao telefone, sentindo sozinha a se recordar das histórias que viveu com um amor do passado; tudo parece tão melancólico, mas também há muita sensualidade. Unir a sensualidade da voz de Akina aos acordes noir de Mariya foi mesmo uma ideia sensacional. 

Yakusoku, que tem influência nos anos 50 com uma pegada 70's, é com certeza a mais esperançosa das três faixas. O eu lírico parece abandonado, nostálgico e solitário. Akina quase que hipnotiza com suas palavras silabicamente sussurradas e o refrão quase não tem força nenhuma, justamente pra que essa fragilidade não seja quebrada repentinamente. Yakusoku é um cochicho saudoso, como quem sabe que ainda há uma chama de esperança, pois houve uma promessa que fora "jogada pelos ares" anteriormente. Quando a faixa acaba restando apenas a saudade temos que lidar com a verdade de que tudo foi apenas um devaneio e que na manhã seguinte haverão outras coisas.

 


Eki, vem logo me seguida, em cordas tradicionais, quase que relembrando aquela Akina anterior, mas aqui com alguma cautela. Dessa triologia esta faixa com certeza é a mais tristonha, é como se fosse consumação do abandono e da solidão. Construída pra ter uma característica mais romântica que a anterior, destacando os acordes em e-piano em meio a uma esfumaçada progressão de pads e cordas que no refrão chegam num clímax contido, como se de tão frustrada e cansada, Akina não tivesse mais forças de cantar; de lançar ao mundo aquele forte vibrato, e então num marasmo sentimental ela sussurra em meio às trevas da madrugada "iluminada por velas" - como ela ressalta em "Jealous Candle". Eki acabou fazendo mais sucesso que o esperado quando lançada como single promocional para "Mick Jagger" e acabou sendo remanejada como single, alcançando a posição #1 da Oricon e por lá morando por quase cinco meses. Parece que o sucesso de Eki impossibilitou uma tentativa de insistir num próximo single, visto que "Oh No, Oh Yes" passou "à sombra dela", pegando ""'apenas"" #2 quando Eki estava dominando no topo. Não foi nem de longe um fracasso, muito pelo contrário, mas figura como uma das faixas mais injustiçadas de sua carreira, porque sim merecia como nunca vibrar no topo da Oricon.



Oh No, Oh Yes, é um desvio sensual mas que não deixa de ser tristemente sentimentalista. Nessa letra em que o Eu lírico para ser a outra, Akina canta sobre como é difícil amar, como as coisas não saíram como ela planejou e sobre como ela não que ir sozinha pra casa naquela noite chuvosa. Na questão de produção, esta com toda certeza é mais interessante. Recheada com uma bateria que complementa os acordes do e-piano e aquela pad que quase está sumindo por entre as precursão. Temos então a voz de Akina dançando suave pelas batidas da bateria e depois no final temos o solo de um saxofone, que complemente na medida certa a sensualidade que a faixa evoca. 


Duas versões, duas perspectivas

Depois de todo o sucesso que Crimson teve, Akina tomou um tempo pra descansar e muito se esperava que a parceria com Mariya fosse se repetir para o próximo projeto, intitulado Femme Fatale (este que navega pelo universo da música negra, o new jack-swing de Janet Jackson e conta com vários brasileiros na produção, ouvir: U're Everything); entretanto, não aconteceu. A verdade é que nessa próxima fase Akina abandona os vocais sussurrados do Crimson, mas também não regressa para o vibrato grosseiro do Cruise ou do mistério incandescente do Fushigi; fica mais parecido que Akina está inspirada nos seus vocais iniciais, mais brilhantes lá de 1982. Outra coisa que fica de lado aqui é a imagem sensual, os tubinhos e os longos cabelos ondulados. Apostando numa imagem mais moderna, de presença e séria. E tudo isto pode estar ligado à vida pessoal de Akina, que na época estava noiva do então vereador de Tokyo. 

Nunca mais se ouviu falar de Akina e Mariya juntas. Muito se especulou na época, visto que Mariya e Seiko estão produzindo coisas juntas até a data de hoje, pelo o que se tem notícia. Em meados dos anos 90, um fervoroso boato dizendo que Mariya teria se decepcionado com uma possível atitude mesquinha de Akina teria sido o motivo do afastamento. Mais tarde foi o próprio Tatsuro que dizia odiar a versão de "Oh No, Oh Yes" de Akina e que ele e Mariya tinham uma versão bem melhor do clássico e que em breve seria lançada. A declaração fomentou rumores de um possível feud entre as duas maiores estrelas pop do Japão. 

Mariya performando Plastic Love

Não demorou em 1992 pra Mariya lançasse seu poderoso álbum Request (este que vendeu mais de 1 milhão de cópias na primeira semana apenas no Japão). Com apenas seis faixas iniciais, quase um EP, e contando com hits poderosos como "Yume No Tsuzuki" e "Shiwase No Monosahi", Oh No, Oh Yes, foi lançada como lado B de Shiwase No Monosahi, mas no mesmo ano, Mariya reditou a coisa toda e relançou o álbum durante o verão, com uma nova capa e título: "Quiet Life" inserindo nele mais cinco músicas oficias e usando sua versão de "Oh No" para promover esta fase do projeto. A faixa rapidamente alcançou o #1 nas paradas musicais e vinham como um refresco para esta nova fase, mais R&B, de Mariya. Numa produção mais clara, menos sombria e sensível, quase a música ganha uma outra conotação. Mariya tem uma voz mais presente e vocais mais firmes e claro que Akina e talvez isso tenha ajudado a música se popularizar, torando o álbum "Queit /life!" o mais vendido na China, naquele ano. Bom, ninguém sabe porquê, mas Mariya decidiu mostrar ao mundo sua otimista versão praquela música e de fato acabou fazendo mais sucesso. Todavia, no meu íntimo - eu quero deixar bem claro que eu amo qualquer coisa que Mariya faça - que eu prefiro a fragilidade da versão de Nakamori, parece-me que a faixa nasceu pra ser tão triste-sensual. 

 

 Ninguém sabe se Mariya estar apostando numa faixa lançada apenas cinco anos antes era pra confirmar o possível feud entre as duas ou se ela somente gostava muito daquela - sua própria - composição e gostaria que estivesse em sua discografia também. 

Cinema

eu odeio o final de o diabo veste prada

15:20

Talvez em 2007 ninguém tenha percebido, mas o Nate é o verdadeiro vilão dessa história toda, e que merda foi aquela no final?



"O Diário Veste Prada" segue sendo uma das minhas comédias românticas favoritas dos anos 2000 - e talvez de toda a história do gênero; todavia, os anos se passaram e assim como quando eu assisti pela primeira vez, eu sigo odiando aquele final - e o fato de ele ser tão real - e tudo que ele representa. É desmotivador e extremamente injusto.

Miranda é apenas um expoente, e ela é bem diferente do que você pensa que ela é...

A construção desse longa se dá pra que Miranda, aqui brilhantemente interpretada por Meryl Streep, seja vista como a Vilã. A personagem é amarga e azeda demais pra ser amada, mas fashionista e lacradora demais pra ser odiada. Cheia de complexos, camadas e lacunas, é fácil entender o seu jeito durão e arrogante de se comportar. Em dado momento fica parecendo que Miranda e Andy (Anne Hathaway) possuem muito em comum, e que no passado Miranda foi alguém tão confusa e perdida quanto sua nova funcionária (des)favorita. Miranda, mesmo depois de realizada, ainda parece estar frustrada - tá no olhar dela. Seu casamento parece ruim, sua vida pessoal parece estar sempre em trilhos finos e suas questões são ignoradas pela mesma que suprime tudo, deixando de perceber o que existe à sua volta e também deixando de percebe-se, para colocar o seu trabalho e status quo acima de qualquer coisa. Miranda não parece ser uma mãe presente, ela não é uma boa amiga, não é uma boa chefe, não é uma boa esposa, não é uma boa pessoa e tudo isso faz a Miranda uma perfeita personagem. Nada está certo com ela e é bem verdade que seu relacionamento com Andy era uma versão menor de Chernobyl, mas ela não é verdadeira vilã desta história. 

Tudo mundo que viu esse filme na época, por mais que não tenha a odiado, de fato, a olhou como se: "ual essa mulher é a megera da coisa." "ela quase estragou o relacionamento a personalidade da mocinha" "por culpa dela a mocinha quase traiu o namorado e esqueceu os amigos." 

Vale lembrar, que embora apenas uma personagem, Andy representa um arquétipo social existente e também é uma pessoa no que se insere, e todas as escolhas que toma durante o desenvolvimento do longa são suas. Miranda não a estava influenciando totalmente. Embora ela quisesse chamar a atenção da patroa e se provar mais do que era enxergada, ela se sentia bem naquelas roupas, sentia-se feliz naquele universo que era seu sonho. Mesmo que ela tenha criado expectativas sobre Miranda, em paris (isso porque ela quis, pois bem sabia de como era a personalidade dela) e depois se decepcionado com o golpe que Nigel (Stanley Tucci) leva da mesma, isso não era o suficiente pra lagar um emprego que podia levá-la para uma revista importante: como a Vogue, Elle ou Glamour. 

pra falar a verdade Andy está cercada de gente tóxica

Andy desistiu de tudo simplesmente por que foi diminuída e desencorajada por aqueles que deveriam apoiar seus sonhos e escolhas, independente de qualquer coisa. Constantemente, os que se diziam seus amigos, estavam caçoando do seu trabalho, seja por estar ocupada demais ou por receber ligações da Miranda no meio do rolê. Eles não estavam preocupados de fato se Andy estava cansada ou sendo abusada de alguma forma, ELES ESTAVAM PREOCUPADOS SE ANDY ESTARIA ALI PRA ELES. UNICAMENTE PRA LHES ATENDER.  E a coisa só muda quando Andy leva alguns presentes caros pra estes "amigos" que se de repente mudam um pouco do discurso defendido, até há pouco. {ela estava literalmente comprando o apoio deles}  

Enquanto isso no ambiente de trabalho, Andy precisa tentar lidar com a amargura e pirraças de Miranda, com a inconstância e inveja de Emily (Emily Blunt) e os risinhos irônicos de Nigel. Todavia, depois de inserida neste mundo glamoroso, Miranda abre-lhe uma porta maravilhosa para o mercado de trabalho, Emily decide apoiar a nova amiga, ainda que às vezes com frases ácidas, e Nigel tenta de um tudo pra tornar tudo mais fácil pra aspirante. Tudo isso não muda fato deles serem tóxicos, mas muito menos que "seus amigos de verdade."

Nate é simplesmente insuportável e tudo dá errado por causa dele

Lá trás, quando lançado, muito gente suspirou de amores porque Andy abria mão do luxo e do gliter pra viver ao lado do seu namoradinho: TODO MUNDO ACHANDO INCRÍVEL QUE A COITADA TENHA FUCKING DESISTIDO DE SEUS SONHOS PRA FICAR AO LADO DE UM CARA QUE EXIGIU ISSO OU O RELACIONAMENTO IA ACABAR.

Nos olhos de 2021, Nate (Adrian Grenier) é simplesmente o tipo de namorado que toda garota, ou garoto, deve evitar. É o mais claro exemplo do abuso passivo - isso pra não dizer claramente abusivo - onde lentamente somos envolvidos por brandas ameaças até que então cedemos tudo pra então ficarmos a mercê das vontades de um (a/e/x) manipulador, que dali pra frente ditará cada passo das nossas vidas (isso é se nos for permitido dar algum.)

Depois de se frustrar com Miranda, Andy entra num processo de reflexão: "será que é com este tipo de gente que eu quero ser associada?"

Mas Andy sabia que Miranda não iria indicar Nigel, pois sabia que aquele mundo era um jogo de caça e rato. Miranda precisava manter seus inimigos bem próximos, pra que não viesse ser desamparada mais tarde. Foi injusto confabular que Miranda iria prestigiar Nigel, com James (Daniel Sunjata) em seu caminho. Andy se frustrou porque queria se frustrar. Ela estava apenas procurando um motivo, uma situação, circunstância pra sair dali correndo e voltar pros braços do seu abusador. 

Não há culpa em Andy, mas também não há em Miranda. A culpa de tudo é toda de Nate. O namoradinho não deu trégua um segundo se quer desde que Andy começou a trabalhar na agência de Miranda. Ele fez a caveira da mulher. Ele aproveitou de todas as formas e deleitou-se em todas as situações possíveis, de maneira tendenciosa, pra fazer com que Andy visse uma Miranda que ele criou - e talvez a direção do filme tenha um pouco do seu male-gaze (olhar machista.) Contudo, por mais que Andy estivesse vendo uma Miranda totalmente demonizada e disfuncional esta não foi a maior causa da sua fuga.

Andy não se sentia suficiente praquele mundo (quando a própria Miranda disse que era - e meus caros se a Miranda não fosse referência no ramo não sei mais poderia ser). Como se fosse desajeitada ou simples demais pra toda aquela coisa - o que não é nenhuma verdade - e sentindo-se diminuída ela decide de afastar. Mas essa insegurança não nasce de Andy, pelo contrário, acompanhamos quase todo o longa uma Andy determinada e capaz de tudo pra chegar onde quer. Esse sentimento de insuficiência nasce de Andy. Quem aqui lembra quando ele duvidou que ela tenha sido contratada e insinuou que ela tenha sido contratada pelo telefone? SIM ELE ESTAVA FALANDO DESSA FORMA DA APARÊNCIA DA PRÓPRIA NAMORADA. Fora isso, durante todo o longa, vemos um namorado desmotivador, agorento e que deseja, quase resfolegando a relinchar, que tudo dê errado pra ela. Ele quer colocar Andy no local de incapaz, de que pra ela só existe o menor. 

Mas por que o menor?

Nate, muito provavelmente, sentia-se diminuído. Afinal para um marmanjo vivendo às custas de um relacionamento e dos amigos - abusivos - da namorada, ver a mesma crescer de maneira independente e se tornar requisitada no mercado de trabalho provava seu fracasso. Ele se irritava toda vez que Andy estava feliz porque algo havia dado certo. Ele usava seus argumentos pra convencer a namorada de que ela estava se tornando uma nova espécie de Miranda.

*ok, talvez este tópico tenha sido muito afetado, mas isso não o desconfigura como real*



uma nova espécie de Miranda...

Andy, apesar de admirar a garra de Miranda como profissional, sentia repulsa pelos seus atos mesquinhos e interesseiros. Para Andy, era essencial se afastar de qualquer coisa que lembrasse as atitudes de Miranda. Repelia-se automaticamente. Quando começou a ser colocado em sua cabeça que ela poderia estar se comportando igual a megera, rapidamente ela tomou outra ótica da situação, agora afetada pela perspectiva de Nate. 

Andy sente que isso pesou mais quando a própria Miranda a mostra, que sim, ela havia feito coisas parecidas. Ao responder sobre Nigel, ela aponta um ocorrido anterior com Emily. Mas Andy entendeu errado. Miranda não quis dizer: você é uma vadia má como eu; ela quis dizer: todos nós em algum momento vamos agir por interesse e colocar-nos-emos em cima do outro. E isso é tão real, puxa. Todavia, porém, Andy não queria enxergar dessa forma, e nem conseguira, pois sua visão já estava contaminada. Agora sem avaliar a situação, ela foge, abandonando seu sonhos, simplesmente por cogitar que estava sendo tão brutal como Miranda; apenas porque ela estava sendo tão má como seu namoradinho havia dito que ela seria. 

Arrependida e envergonhada, a nossa protagonista volta pra onde originalmente estava - o nada, cof, digo, um jornalzinho de nada - e terá que recomeçar tudo de novo pra chegar onde estava, algo que provavelmente ela não irá conseguir. O mais triste de tudo é que no fim resta a apenas a frustração de que mais um abusador conseguiu colocar uma vítima no lugar que ele queria, abaixo dele. 

apesar dos apesares, Miranda é melhor que Nate e Andy

Não muito de longe, Miranda observa. E temos a comprovação oficial do que o filme realmente quer falar. Maturidade. Miranda, mesmo sendo uma carrasca, quase vista como uma espécie de Calígula da moda, é quem se mostra totalmente humanizada. Longe da hipocrisia e da insegurança, ela prepara o terreno para a nova jornada de Andy, por quem tinha alguma feição e confiança, não abandonado a oportunidade de uma futura reconciliação. Apesar de se sentir traída e abandonada, Miranda sente-se feliz pela nova caminhada de Andy (e se vê nela no tipo de: eu também precisei passar por tudo isso pra entender como o mundo pode ser cruel). Verdadeiramente Miranda quer o melhor pra Andy, independente do local em que esteja e deixa-nos bem claro isso; diferente de Nate que só quer Andy bem, se este bem-estar for na posição de vulnerabilidade.  

Quando o filme acaba, por fim, temos uma Andy totalmente presa as garras de um predador, um Nate totalmente satisfeito por finalmente conseguir de alguma forma sentir-se validado e uma Miranda ainda frustrada, mas aliviada por saber que Andy se tornou, ao menos um pouco, mais segura do que antes, de quando se conheceram.


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