10 FILMES DISTÓPICOS QUE VÃO ABRIR SUA CABEÇA
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Distopia pode ser entendida como uma realidade construída a partir de critérios degradantes observados na sociedade, estes podem estar estabelecidos ou em características potenciais. Ou seja, é a construção de uma sociedade contra-utópica, a qual nega a visão positivista de que o progresso e o desenvolvimento tecnológico proporcionariam ao mundo um desenvolvimento humano imensurável. Dessa maneira, a distopia tem como função primordial evidenciar a decadência humana em diversos âmbitos, contrariando a ideia supracitada de um futuro melhor. A sua importância reside na lupa sociológica, que traz à tona problemas percebidos na sociedade, mas que, muitas vezes, são deixados de lado, acarretando problemáticas ainda piores.
MATRIX (1999)
Criado pelas irmãs Wachowski, o filme cheio de efeitos especiais, revolucionou o cinema na virada dos anos 2000. A trama gira em torno de Thomas Anderson (Keanu Reeves), um programador de computadores solitário que vive atormentado por constantes pesadelos, nos quais se encontra conectado por cabos a uma imensa rede de computadores contra a sua vontade. Com a ciclicidade dos seus pesadelos, Anderson começa a duvidar da sua realidade, até que encontra Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss), tomando conhecimento de que vive na Matrix, uma realidade construída pelo sistema de computadores que domina o mundo e de que é Neo, o messias capaz de salvá-los do domínio da Matrix. Bebendo de fontes filosóficas como Platão e Jean Baudrillard, o filme das Wachowski questiona o estado de dominação em que vivemos e como estamos submetidos a realidades construídas pela perspectiva do status quo, sobretudo, em relação aos valores que atribuímos por meio da publicidade e do consumo. É uma obra que requer atenção e vai muito além das cenas de ação, proporcionando reflexões pontuais sob o estado de dominação e condicionamento que nos encontramos.
LARANJA MECÂNICA (1971)
O filme de Stanley Kubrick, baseado na obra homônima do escritor inglês Anthony Burgess, se passa em uma Londres distópica, em um futuro não determinado. Encontramos, então, um jovem chamado Alex (Malcolm McDowell) e sua gangue de “drugues” que pratica todos os tipos de violência, desde pequenas brigas a espancamentos, estupros e assassinatos. Movidos por puro prazer, ou seja, sem motivações aparentes para cometer tamanha violência, os jovens saem todas as noites praticando o que chamam de “ultraviolência”. Esse comportamento não se reduz a gangue de Alex, sendo praticado por outras gangues formadas por jovens. A obra procurar problematizar a questão da liberdade, de que modo a violência pode ser praticada, seja física ou psicológica e debate a formação de indivíduos “bons” através do condicionamento e do adestramento. Construído com as belas mãos de um dos gênios da sétima arte, o filme é extremamente reflexivo, filosófico e perturbador.
FILHOS DA ESPERANÇA (2006)
O futuro distópico criado pelo diretor mexicano Alfonso Cuarón é apontado por muitos como a melhor ficção científica do século XXI. A obra é adaptada do livro da escritora britânica P.D. James e se passa no ano 2027 em um mundo marcado por poluição, superurbanização, terrorismo, guerras civis, isto é, extremo caos. Além disso, há 18 anos as mulheres inexplicavelmente se tornaram inférteis, aumentando o medo e a falta de perspectiva. Diante do caos instalado, o único governo que se mantém de pé é o britânico, que governa de forma autoritária, sobretudo, em relação aos estrangeiros que fogem dos seus locais de origem e tentam entrar no país. Com esse contexto, o filme aproxima-se muito da realidade, principalmente, no que tange à crise dos refugiados que atravessamos, mostrando de forma crua e dura essa realidade. No meio desse turbilhão, encontramos Theo, um burocrata sem qualquer fé na humanidade que tem a missão de proteger uma mulher grávida, levando-a para um local seguro onde possa ter seu bebê. Com ótimas atuações, um roteiro muito bem construído e uma fotografia (Emannuel Lubezki) que reforça o estado caótico daquela sociedade, Filhos da Esperança é um filme triste, mas, ao mesmo tempo assustadoramente profético e, portanto, imperdível.
Baseado em uma HQ francesa, o filme do diretor sul-coreano Bong Joon-Ho, se passa em um futuro não tão distante em que, após uma tentativa mal sucedida de impedir o aquecimento global, o mundo é tomado por uma nova era do gelo. Os únicos sobreviventes desse novo ambiente estão a bordo de um grande trem em movimento. Essa nova sociedade é marcada por uma forte estratificação social, em que os pobres ficam na parte de trás vivendo em condições sub-humanas, e os mais ricos se localizam no resto do trem vivendo de modo confortável. Cansado dessa situação, Curtis (Chris Evans) decide liderar uma revolução que pretende derrubar a ordem estabelecida, no entanto, terão que enfrentar todo o poder de fogo de que dispõe a elite do trem. Trabalhando temáticas como a luta de classes (o motor da história), desigualdade social, exploração das classes dominantes, autoritarismo e discussões sobre a aplicação do positivismo na manutenção do status quo, Expresso do Amanhã é um filme que demonstra a crueldade e o egoísmo do ser humano. O roteiro bem elaborado garante uma trama bem desenvolvida e reflexões sociais que não devem passar despercebidas.
BLADE RUNNER (1982)
Baseado no livro “Do androids dream of electric sheep?” do escritor americano Philip K. Dick, o filme dirigido por Ridley Scott, nos seus bons tempos, se passa no ano de 2019 em uma sociedade marcada pela poluição, problemas climáticos, consumismo, superpopulação e discrepâncias sociais. Nesse futuro distópico são criados robôs mais fortes e ágeis que os seres humanos e se equiparando a estes em inteligência. Esses robôs são chamados de replicantes e eram utilizados em outros planetas para exploração ou povoamento. No entanto, quando um grupo de replicantes mais evoluídos provoca um motim, em uma colônia fora da Terra, eles se tornam ilegais no nosso planeta, sob pena de morte. A morte deles fica a cargo, então, de uma força especial da polícia – os Blade Runners – no qual se encontra Rick Deckard (Harrison Ford) que tem a missão de matar um grupo de replicantes liderados por Roy Batty (Rutger Hauer). Considerados por muitos como o melhor filme de ficção científica já produzido, Blade Runner é uma obra dura que mostra um futuro sombrio, onde sempre chove e poucas vezes vemos o sol. No entanto, o ponto alto do filme consiste nos seus questionamentos sobre a essência do “ser” humano ao confrontar os humanos com os replicantes, além de questionar o valor da vida. Profundamente poética, a obra de Scott é bela e reflexiva, contando, ainda, com uma das cenas mais belas do cinema.
V DE VIGANÇA (2005)
Baseado em uma série de romances gráficos (Graphic Novel) de Alan Moore, o filme narra a história de uma Inglaterra futura governada por um governo autoritário, o qual tem como seu chefe o chanceler Adam Sutler (John Hurt). O regime autoritário governa de forma fascista, prendendo, torturando e matando todos aqueles que se opõem ao governo, assim como, todos que são julgados como párias, como negros e homossexuais. Além da coerção física, o governo também se utiliza da mídia para promover o adestramento e a alienação das pessoas, de modo que estas se mantenham subservientes à vontade do Partido. A realidade se modifica quando um homem mascarado, intitulado “V” (Hugo Weaving), começa a promover atos terroristas contra o governo, a fim de libertar o povo da alienação e do condicionamento promovidos pelo Estado. Com várias referências ao clássico “1984” de George Orwell, o filme de James McTeigue, com roteiro dos irmãos Wachowski, tem uma trama que se desenvolve bem, conjugando bem o mistério ao redor de V com as reflexões sociológicas do filme e, acima de tudo, deixa a mensagem de que a força de ideais é muito mais forte que homens.
1984 (1984)
A adaptação do clássico de George Orwell para as telonas feita por Michael Radford mostra uma Londres controlada por um governo autoritário, o “Partido”, “personificado” na figura do Big Brother (Grande Irmão) que tudo sabe e tudo vê. Nessa sociedade vigiada, os indivíduos têm as suas vidas controladas totalmente pelo Partido, sendo proibido qualquer ato de oposição, bem como, pensar e se relacionar. Praticar qualquer ato que não seja permitido pelo partido implica o cometimento de crime e é exatamente isso que faz o protagonista da história Winston Smith (John Hurt). Sujeito perspicaz, Winston percebe as manipulações do Partido, como, por exemplo, a manipulação contínua da história e do vocabulário que vai diminuindo pouco a pouco, levando ao que chamam de “novilíngua”. Assim, começa a pensar de que modo pode modificar aquela realidade, ao mesmo tempo em que se envolve com Julia (Suzanna Hamilton), uma jovem que compartilha dos seus pensamentos. O filme não consegue abarcar a totalidade da magnífica obra de Orwell, mas cumpre sua missão ao retratar a alienação dos indivíduos que não conseguem enxergar os absurdos cometidos pelo Partido e mostra as principais idéias do livro, como a dominação por meio da dor, do controle das informações, da comunicação (“teletelas”) e da língua.
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA (2008)
O filme do diretor brasileiro Fernando Meirelles é baseado na obra homônima do Nobel José Saramago. Na história, inexplicavelmente as pessoas começam a se contaminar com uma doença, a cegueira branca. Com o surto o Estado decide colocar todas as pessoas contaminadas em uma espécie de quarentena. No entanto, essa quarentena se parece mais com uma prisão, em que as pessoas doentes são abandonadas a própria sorte, sendo tratadas de modo desumano. Nessa “quarentena” há, todavia, uma mulher que apenas finge que está cega, uma vez que não quis abandonar o marido que cegara. Ela, a “mulher do médico” (Julianne Moore), representa a esperança da humanidade, isto é, a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam, já que a obra é uma crítica ao modo mesquinho, egoísta e individualista que levamos a vida, preocupando-se apenas com nós mesmos, sem o mínimo de compaixão. O filme, ainda, crítica formas autoritárias de governo, como o que se instala após a epidemia, além de, obviamente, demonstrar de forma crua a miséria humana, a precariedade da vida, derrubando as cortinas e mostrando o que realmente somos. Assim, como 1984, é um bom filme, tendo agradado o próprio Saramago, mas não se equipara à magnífica obra do portuga.
FAHRENREIT 451 (1966)
Adaptação do livro homônimo do americano Ray Bradbury, o filme se passa em um futuro próximo, no qual temos um Estado totalitário em que os bombeiros não têm a função convencional que conhecemos, mas sim de queimar qualquer tipo de material impresso, uma vez que para o Estado a literatura é fonte primária e propagadora da infelicidade. Nesse contexto, conhecemos Guy Montag (Oskar Werner), um bombeiro que após presenciar um caso em que uma mulher preferiu ser queimada junto com sua biblioteca ao invés de continuar viva, começa a questionar os fundamentos da sociedade em que vive. O longa do francês François Truffaut nos mostra de que modo o conhecimento que é proporcionado através da literatura é essencial para a libertação das pessoas, bem como, mostra de que modo os dominantes cerceiam de todos as formas o acesso do individuo ao conhecimento, tornando-o alienado e subserviente a ordem estabelecida. Um bom filme de uma das grandes obras da literatura mundial.
BRAZIL (1985)
Em algum lugar do século XX, conhecemos uma sociedade governada por um sistema autoritário, burocrático e tecnocrático. Nada é feito de forma direta e simples. Todas as coisas devem seguir ritos, processos e um emaranhado de papéis. A vida das pessoas é movida através dessa burocracia, de tal modo que um simples erro na produção de um dos sem número de papéis pode destruir a vida de uma pessoa. Com tanta burocracia e tecnologia, a sociedade é extremamente caótica e desigual, em que de um lado temos pessoas gastando dinheiro consumindo coisas inúteis e de outro vemos lugares sujos e desestruturados. Todos esses ingredientes formam uma bela distopia, no entanto, não da forma com estamos acostumados. Terry Gilliam nos apresenta um mundo caótico e pragmático por meio de uma comédia ácida e nonsense, na qual temos o protagonista Sam Lowry (Jonathan Pryce), um burocrata, que cansado desse mundo, busca refúgio nos seus sonhos ao mesmo tempo coloridos e bizarros. Com influências de Kafka e Orwell em sua composição, Brazil é um filme que retrata uma sociedade caótica, autoritária e alienada, em que números são mais importantes do que pessoas. Não é um filme tão fácil, mas é único em sua composição escrachada de um sistema alienante e opressor, além de contar com Robert De Niro em um papel bem estranho e engraçado.
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