Como foi o massacre do Carandiru?
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O episódio repercutiu até fora do Brasil devido à quantidade de mortos e também à forma como os presos foram abordados pela polícia...
Foi uma resposta policial a uma rebelião, que vitimou 111 presos da Casa de Detenção do Carandiru, na capital paulista, em outubro de 1992. O episódio repercutiu até fora do Brasil devido à quantidade de mortos e também à forma como os presos foram abordados pela polícia. 120 policiais militares foram indiciados.
Em 2001, o comandante da operação, coronel Ubiratan Guimarães, foi condenado a 632 anos de prisão por 102 das 111 mortes. Ele recorreu da sentença e o Órgão Especial do TJ o absolveu do crime em 2006, mesmo ano em que Ubiratan morreu. Nesse meio tempo em que corria o trâmite do recurso, foi eleito deputado estadual por São Paulo em 2002 e fez parte da bancada da bala.
Outros 74 PMs envolvidos no massacre foram condenados em diversos julgamentos feitos entre 2013 e 2014. As penas variavam entre 48 e 624 anos de prisão, mas ninguém foi preso, já que todos recorreram da decisão. Em setembro de 2016, o Tribunal de Justiça de SP anulou os julgamentos de todos os 74 policiais e a Promotoria anunciou que entraria com recurso para manter as condenações.
A Casa de Detenção foi inaugurada em 1956, pelo governador Jânio Quadros. Inicialmente, o projeto previa abrigo para 3.250 presos, mas, com o passar dos anos, teve sua capacidade máxima ampliada para 6,3 mil. Em 1975, a prisão deixou de abrigar apenas presos à espera de julgamento e, no início dos anos 90, a população chegou a ser de 8 mil detentos. O Carandiru foi desativado em 2002. Atualmente, a área abriga o Parque da Juventude, com áreas esportivas, bosque, escolas técnicas e uma biblioteca
COMO FOI A REBELIÃO
1. Pela manhã, dois detentos começaram a brigar em um jogo de futebol na quadra interna do pavilhão 9. Quando Antônio Luís do Nascimento (Barba) e Luís Tavares de Azevedo (Coelho) começam a se atracar, alguns grupos se aproveitaram da confusão para acertar desavenças passadas, iniciando a rebelião.
2. Às 14h, os carcereiros abandonaram os postos e transferiram alguns feridos para o pavilhão 4. Os presos lançaram lixo pelas janelas e atearam fogo a colchões e outros objetos. Com a situação fora de controle, o diretor do presídio pediu apoio a Polícia Militar.
3. Cerca de 300 oficiais da Rota, Gate, Choque, Cavalaria e Corpo de Bombeiros chegaram à detenção. De acordo com a direção do Carandiru e o comando da PM, houve uma tentativa de negociação, ignorada pelos presos. Ex-detentos, por outro lado, alegaram que os presos sinalizaram a rendição antes de a polícia entrar. O número de 300 policiais é da Promotoria – na versão do coronel Ubiratan, apenas 86 homens invadiram o pavilhão.
4. A polícia invadiu o pavilhão às 16h30. Cerca de 90 homens quebraram as barricadas construídas pelos detentos e, em poucos minutos, controlaram o piso térreo do pavilhão. O coronel Ubiratan Guimarães, comandante da operação, foi ferido e removido da ação, passando o comando para o capitão Wilton Brandão Filho.
5. No primeiro andar, os policiais deram de cara com mais barricadas e um detento morto pendurado de cabeça para baixo. De acordo com a perícia, a agressividade policial aumentou e cerca de 30 prisioneiros foram mortos fora das celas neste pavimento. Do terceiro andar em diante, não havia indícios de conflito.
6. Na versão oficial, aconteceu uma emboscada dos detentos, equipados com armas de fogo, estiletes e facas com sangue contaminado e sacos plásticos com fezes e urina. A polícia revidou com disparos de fuzis e metralhadoras e 60% das vítimas foram mortas entre o primeiro e o segundo pavimento. Cerca de 70% dos disparos certeiros dos policiais atingiram o tórax ou a cabeça dos presos.
7. A rendição aconteceu às 17h. Muitos sobreviventes se esconderam entre os corpos no chão. Os detentos foram retirados das celas, nus e descalços, e auxiliaram os PMs na transferência dos cadáveres para o primeiro andar. Muitos feridos acabaram morrendo neste momento.
8. Os detentos foram encaminhados para uma quadra externa, onde a polícia fez a revista e a contagem. Oito feridos foram levados a um pronto-socorro nas redondezas, mas chegaram mortos. Foram 103 detentos mortos por disparos e 130 feridos. Entre os PMs, foram 23 feridos. “Se a nossa intenção fosse matar, teriam morrido muito mais que 111”, disse o coronel Ubiratan à imprensa na época
FONTES Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, Grupo de Ações Táticas Especiais do Estado de São Paulo, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo
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