Como a lavagem cerebral funciona?

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Imagine perder o controle de seus pensamentos e virar uma espécie de robô que age da forma desejada por um político, um religioso ou uma empresa. Esqueça, porém, a imagem de alguém alterando seu cérebro com choques, cirurgias ou pílulas. Não há fórmula mágica na lavagem cerebral. “Trata-se de uma aplicação de técnicas psicológicas comuns, mas em um nível muito extremo e coercitivo”, diz Kathleen Taylor, pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e autora de Brainwashing – The Science of Thought Control (“Lavagem cerebral, a ciência do controle do pensamento”, sem edição no Brasil). O conceito de lavagem cerebral remete a um termo do mandarim, “hsi-nao“, usado na meditação para definir a limpeza da mente ou do coração. Ele surgiu nos anos 1950, quando o jornalista norte-americano Edward Hunter buscava uma explicação para a súbita mudança de comportamento de soldados de seu país. Eles haviam sido reféns de chineses e norte-coreanos na Guerra da Coreia e, ao voltarem aos EUA, tornaram-se comunistas ferrenhos.

Como o cérebro é condicionado?
Faltam dados exatos, mas avanços da neurobiologia começam a dar pistas
Mirar no alvo
O córtex pré-frontal é a área do cérebro responsável pelo lado racional. Assim, a manipulação deve se encarregar de fazer essa região trabalhar o menos possível, deixando a maior parte das escolhas a cargo de áreas responsáveis pelo subconsciente
No seu quadrado
O cérebro é bom em dividir comportamentos diferentes em áreas distintas (trabalho, família…). Quanto mais fraca uma área, mais vulnerável à lavagem. Isso explica por que um nazista podia obedecer as ordens de matança e depois ir para casa e ficar com a família
Somos ratos
Sempre que escuta determinada música você se lembra de uma paisagem? É assim que a reconstrução da identidade individual funciona. O torturador é mal quando quer confissões e bom quando vai doutrinar
Palavras-chave
Conceitos abstratos, com diferentes interpretações, como “justiça”, vão para o cérebro com forte carga de emoção, ficando bem fixados. Por isso, manipuladores gostam de usá-los. Já argumentos racionais, baseados em informações, têm pouco impacto nas pessoas
No limite
Normalmente, o cérebro filtra as informações que chegam ao córtex. Mas esse controle fica mais frouxo durante um momento de estresse. É por isso que a pessoa que quer dominar mentalmente tenta exaurir sua vítima ao máximo, causando medo e cansaço
Para mais informações…
Não é possível saber com maior exatidão como essas técnicas atuam no organismo, pois questões éticas proíbem esse tipo de pesquisa. Além disso, a tecnologia disponível não permitiria tal acompanhamento de maneira detalhada
Não seja uma vítima
Proteção completa, só isolando-se 100% do mundo. Mas certas precauções já ajudam
Cuide da saúde
Gente saudável tem maior senso de controle sobre si. Quem vive numa montanha-russa de muito estresse, pouco sono, álcool e drogas abaixa a guarda. E fica mais exposto às influências
Cultive a experiência
Pessoas mais velhas tendem a acumular mais lições de vida e perceber melhor certas armadilhas dos manipuladores. Elas também têm menos necessidade de fazer parte do “efeito manada” e, apegadas a fatos que já conheceram antes, são mais difíceis de serem convencidas
Estimule a criatividade
Pessoas com grande capacidade imaginativa possuem mais conexões cerebrais. Assim, analisam melhor tudo o que acontece ao seu redor
Apegue-se
É uma ótima forma de não se deixar levar pela “onda” que será imposta em uma tentativa de reprogramação. Quando você sentir que está sendo levado por uma série de argumentos, vai se lembrar do que realmente importa. Família, amigos, valores etc. são escudos nessas horas
Pare e pense
Desenvolva essa capacidade. Só assim você vai conseguir diferenciar ideias nas quais realmente acredita daquelas em que é apenas massa de manobra
Tenha uma educação diversificada
Cada novo conhecimento fortalece o córtex pré-frontal, o grande tomador de decisões do cérebro. E, quanto mais diversificada e plural for a sua cultura, menos chances você terá de ser vítima da manipulação que leva ao fanatismo ignorante
Tome cuidado em momentos difíceis
Pessoas que tiveram a vida sacudida por acontecimentos grandes (e em geral trágicos), como a morte de um parente, perda do emprego ou uma separação, ficam mais suscetíveis, pois estão em busca de uma válvula de escape
Ajude quem precisa
Conhece alguma pessoa que possa estar passando por essa situação? “Primeiro, afaste-a do ambiente ou do agente coercivo. Ouça o que ela tem a dizer e a respeite e, se for o caso, procure ajuda profissional”, explica Kathleen Taylor.

Como funciona a lavagem cerebral aplicada em grupos?




Imagine perder o controle de seus pensamentos e virar uma espécie de robô que age da forma desejada por um político, um religioso ou uma empresa. Esqueça, porém, a imagem de alguém alterando seu cérebro com choques, cirurgias ou pílulas. Não há fórmula mágica na lavagem cerebral. “Trata-se de uma aplicação de técnicas psicológicas comuns, mas em um nível muito extremo e coercitivo”, diz Kathleen Taylor, pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e autora de Brainwashing – The Science of Thought Control (“Lavagem cerebral, a ciência do controle do pensamento”, sem edição no Brasil). O conceito de lavagem cerebral remete a um termo do mandarim, “hsi-nao“, usado na meditação para definir a limpeza da mente ou do coração. Ele surgiu nos anos 1950, quando o jornalista norte-americano Edward Hunter buscava uma explicação para a súbita mudança de comportamento de soldados de seu país. Eles haviam sido reféns de chineses e norte-coreanos na Guerra da Coreia e, ao voltarem aos EUA, tornaram-se comunistas ferrenhos.

1. O primeiro passo é escolher a vítima. Jovens, ainda em busca de uma identidade própria, são um alvo fácil, assim como pessoas emocionalmente abatidas. Um exemplo são os europeus filhos de imigrantes, sem oportunidade nem emprego, que acabam engrossando as fileiras do Estado Islâmico
2. O acolhimento ocorre de diversas formas, como uma conversa em tom de desabafo, uma palestra, convites para um jantar ou uma festa onde se conhecem outros membros. Quando menos espera, a pessoa já está inserida no grupo
3. O caminho está aberto para as tentativas de convencimento. Ensina-se que a ideologia do grupo é cientificamente correta e moralmente a melhor que existe. Essa crença coletiva é mais importante do que opiniões e experiências individuais
4. Respeito ao líder é essencial. Por isso, muitos grupos terroristas, extremistas políticos e seitas fundamentalistas têm uma espécie de messias, liderança carismática, que defende ideais revolucionários e cuja autoridade jamais pode ser contestada
5. Gradativamente, a pessoa é isolada. Ela se envolve com as tarefas do grupo que demandam cada vez mais tempo, deixando, aos poucos, a vida anterior para trás. As tarefas são desgastantes, como treinamentos militares e trabalhos em plantações. Assim, a pessoa não tem tempo nem forças para refletir a respeito. Somente quando essa imersão fica intensa é que amigos e parentes se dão conta de que algo está estranho com ela.

6. Uma vez que a pessoa aceitou o novo contexto na sua vida, ela chega ao último estágio, em que pode ser apresentada às posições mais radicais do grupo. No caso do terrorismo religioso, primeiro a pessoa é convencida de que Deus a ama, para depois receber sua missão, como um ataque armado. Caso as ideias extremas sejam apresentadas antes que a vítima esteja “preparada”, ela pode se assustar e deixar o grupo
7. A lógica reinante é a do pensamento binário, ao melhor estilo “nós contra eles”, como se houvesse só uma verdade no mundo. Isso leva os membros a atitudes extremas, já que eles se sentem no direito (e, muitas vezes, no dever) de controlar a vida e o destino dos outros
8. Em um ambiente restrito como o de tais grupos, a paranoia dá as caras e qualquer deslize deve ser reportado. Quando a lavagem cerebral é muito intensa, aquele que contestar consigo mesmo o que está fazendo ali pode passar a se considerar um traidor da causa
9. Totalmente convencida dessas ideias utópicas e inserida em um ambiente no qual tem pouco acesso a informações contrárias ou de fora, a pessoa acha que qualquer sacrifício é justificável. Assim, ela toma atitudes até então impensáveis. Está feito o estrago
DUAS CURIOSIDADES:
– Um novo nome pode ser providenciado, de forma que a vítima se separe do seu “eu” do passado
– O controle da informação leva à criação de termos próprios, que dificultam a compreensão de quem não faz parte do grupo
Hollywood adora esse assunto
Vários filmes retratam a reprogramação cerebral aplicada em grupos. Em A Onda (2008), um professor de escola transforma o comportamento da classe com técnicas de manipulação de massas. Já O Mestre (2012) retrata como um veterano de guerra fica cada vez mais dependente de uma organização religiosa conhecida como A Causa. Na literatura, o clássico 1984 (1949), de George Orwell, é um ótimo caminho para entender como regimes totalitários agem e tentam esmagar seus opositores.

Como funciona a lavagem cerebral forçada?


Imagine perder o controle de seus pensamentos e virar uma espécie de robô que age da forma desejada por um político, um religioso ou uma empresa. Esqueça, porém, a imagem de alguém alterando seu cérebro com choques, cirurgias ou pílulas. Não há fórmula mágica na lavagem cerebral. “Trata-se de uma aplicação de técnicas psicológicas comuns, mas em um nível muito extremo e coercitivo”, diz Kathleen Taylor, pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e autora de Brainwashing – The Science of Thought Control (“Lavagem cerebral, a ciência do controle do pensamento”, sem edição no Brasil). O conceito de lavagem cerebral remete a um termo do mandarim, “hsi-nao“, usado na meditação para definir a limpeza da mente ou do coração. Ele surgiu nos anos 1950, quando o jornalista norte-americano Edward Hunter buscava uma explicação para a súbita mudança de comportamento de soldados de seu país. Eles haviam sido reféns de chineses e norte-coreanos na Guerra da Coreia e, ao voltarem aos EUA, tornaram-se comunistas ferrenhos.

Na base da porrada
Há três tipos de lavagem. A forçada, como o nome diz, é a mais radical e eficaz
1. Na quebra da identidade individual, o perpetrador mergulha a pessoa em um ambiente de extrema pressão, com torturas físicas e psicológicas. A intenção é evocar sentimentos como culpa e auto-traição até que a vítima não aguente e peça ajuda
2. O algoz introduz a ideia de salvação e apresenta uma saída, sempre ligada à aceitação da nova crença (religiosa, política, ideológica etc.). Ele então manipula a pessoa a pensar que ela é a única responsável por estar ali, mas, se confessar seus “pecados”, pode “se ajudar”. Isso serve para que o torturado acredite que, apesar de tudo, ele ainda controla suas próprias ações
3. Hora de reconstruir a identidade individual. Gradativamente, a tortura é substituída por um ambiente mais amigável, em que favores são concedidos para que a sensação de bem-estar fique associada à nova crença. Mais ou menos como os adestradores de animais, que dão comida quando eles acertam um movimento
Plantando a semente
As técnicas típicas da lavagem forçada

Alternância entre mau e bom Deixa a vítima confusa, sem saber como agir para melhorar a própria situação
Ameaça física e psicológica Serve para desestabilizar a vítima e mantê-la com medo e obediente
Autoridade Domínio do agressor, que determina o que a vítima faz ou deixa de fazer
Cantos ou repetição de frases Ajuda a fixar o novo conteúdo que se quer impor
Necessidade de aprovação O agressor alternadamente pune ou recompensa atitudes similares, o que confunde a vítima
Sensação de culpa Fazer a vítima se sentir responsável por tudo que ela está sofrendo
Novos trajes Impor uma outra maneira de se vestir ajuda a quebrar a individualidade da pessoa
Falta de privacidade Atrapalha o processamento de tudo o que está acontecendo e fragiliza a vítima
Isolamento Evita a a influência de ideias ou opiniões que possam atrapalhar a reprogramação
Dieta e drogas A pessoa é forçada a mudar o que come e bebe e, às vezes, a se drogar. Isso deixa seu sistema nervoso mais vulnerável
Sem perguntas Permitir questionamentos incentiva o pensamento individual, algo a ser combatido
Privação de sono Quem não descansa não raciona direito
NEM A CIA CONSEGUIU
Na Guerra Fria, a CIA investiu em um modo 100% confiável de lavagem cerebral- e falhou. As memórias das cobaias até foram apagadas, mas impor novas crenças se revelou mais difícil do que o esperado. Mesmo que se dominem os métodos apresentados aqui, não é simples manipular totalmente o cérebro de uma pessoa. É o que mostra o clássico filme Laranja Mecânica (1971), em que as convicções do protagonista (submetido à lavagem forçada) não são inteiramente manipuladas
UMA ÚLTIMA CURIOSIDADE A lavagem cerebral pode apagar a memória. Na ficção, quem sofre com isso é o Wolverine.

Como funciona a lavagem cerebral soft?

Imagine perder o controle de seus pensamentos e virar uma espécie de robô que age da forma desejada por um político, um religioso ou uma empresa. Esqueça, porém, a imagem de alguém alterando seu cérebro com choques, cirurgias ou pílulas. Não há fórmula mágica na lavagem cerebral. “Trata-se de uma aplicação de técnicas psicológicas comuns, mas em um nível muito extremo e coercitivo”, diz Kathleen Taylor, pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e autora de Brainwashing – The Science of Thought Control (“Lavagem cerebral, a ciência do controle do pensamento”, sem edição no Brasil). O conceito de lavagem cerebral remete a um termo do mandarim, “hsi-nao“, usado na meditação para definir a limpeza da mente ou do coração. Ele surgiu nos anos 1950, quando o jornalista norte-americano Edward Hunter buscava uma explicação para a súbita mudança de comportamento de soldados de seu país. Eles haviam sido reféns de chineses e norte-coreanos na Guerra da Coreia e, ao voltarem aos EUA, tornaram-se comunistas ferrenhos.


Lavanderia cotidiana
Sabe aqueles momentos em que a publicidade parece estar manipulando a gente? Para especialistas, essa é a lavagem do tipo “soft”
É ou não é?
O ponto é polêmico, porque não há isolamento nem ameaça física, tampouco a pessoa é obrigada a se expor a essas mensagens. Por isso, muitos especialistas defendem que isso é mais persuasão que lavagem cerebral
Um minutinho do seu tempo?
A tentativa de convencimento geralmente não é feita de forma direta, mas por indução, levando a pessoa a crer que a decisão final é dela. Por exemplo, vendedores que abordam potenciais consumidores com opções pré-prontas, como “quer economizar?” Ora, quem não quer? Talvez nem haja uma promoção, mas isso já induz a pessoa a parar e pensar que pode haver algo vantajoso ali
O filtro da política
A distorção ou simplificação extrema de informações é outra forma de levar as pessoas a conclusões predeterminadas. Campanhas eleitorais são craques nisso. Enquanto os partidos de situação nos fazem pensar que vivemos em um paraíso, os programas da oposição dão a impressão de que estamos às portas do inferno
“Filma a cara dele!”
Programas policiais também exageram nas simplificações. Segundo Laura Dauden, pesquisadora do tema, “telespectadores se sentem tranquilos ao dividir pensamentos violentos quando os identificam nesses jornais”. Por isso, o público é induzido a ter opiniões simplórias sobre questões complexas, como: “A solução para o crime é fácil, bandido bom é bandido morto”
Exposição demais
A força da lavagem”light” está no combo. Um único comercial de guloseima não engorda ninguém, mas ser bombardeado por isso pode comprometer a alimentação da pessoa. Outro exemplo: as coberturas sensacionalistas de quedas de avião criam a sensação de que viajar de carro é muito mais seguro, o que está longe de ser verdade
Gato por lebre
Propagandas trabalham com a imposição de necessidades. Muitas vezes, elas sequer remetem diretamente ao produto que vendem, mas ao preenchimento de um desejo. Ao usar belas mulheres para promover carros, a ideia é dar ao possível comprador a sensação de que a vida sexual melhoraria se ele tivesse aquele veículo
Repressão pra valer
Governos, claro, também fazem uso de propaganda para manipular as pessoas. Um caso extremo é a Coreia do Norte. Na escola, as crianças sabem da existência de poucas nações no mundo. E, quando sabem, muitas vezes o que aprendem é deturpado. O país ensina que a rival, Coreia do Sul, era colônia dos norte-americanos, que estupravam mulheres e matavam crianças.
Dormindo com o inimigo
Relacionamentos abusivos também podem incluir esse tipo de controle
Relações afetivas conturbadas podem ser vistas como esse tipo de manipulação mental. No início, ela é “soft”, pois o algoz tenta ganhar a confiança da vítima ao estabelecer uma imagem de harmonia por meio da criação de vínculos. A dominação chega aos poucos, minando a autoconfiança do alvo (como o marido que diz frequentemente que a esposa é feia) e criando uma relação de dependência psicológica e, muitas vezes, financeira (quando repete que ela não é capaz de viver sem ele). Mesmo diante de fatos concretos, como a mulher ter um emprego que paga mais, ele afirma que a esposa só conseguiu isso por sorte e que é questão de tempo para conseguir superá-la e ganhar mais grana que ela. Ainda que perceba algo de errado, a vítima sempre dará uma desculpa (“Não foi isso o que ele quis dizer” etc.). Em um segundo momento, o abuso pode se assemelhar à lavagem cerebral por força, com agressão física e isolamento de familiares e velhos amigos.
O lado bom (e polêmico)
Há quem defenda que ela possa ser usada para recuperar pedófilos ou assassinos seriais. Já pensou?
1. Tal solução está muito mais próxima da realidade do que você imagina. Recentemente, estudos feitos pela Universidade Northwestern (EUA) e pela Universidade de Leiden (Holanda) mostraram ser possível minimizar o racismo e o sexismo em voluntários por meio de estímulos cerebrais
2. No estudo norte-americano, quando as pessoas atingiam o estágio profundo do sono, um alto-falante repetia frases que ligavam negros a palavras boas ou mulheres a termos de ciência. Quando acordava, o grupo refazia um teste em que se associam rapidamente imagens com palavras. Antes, o exame apontava um nível de preconceito de 0,55. Depois, o índice caiu para 0,17
3. Na pesquisa holandesa, a queda no nível de preconceito ocorreu após as pessoas receberem choques elétricos de baixa intensidade no córtex pré-frontal. Ainda não se sabe ao certo o mecanismo cerebral que provoca essa alteração nem quanto tempo ela dura. Mas já tem polêmica na área, pois os especialistas debatem sobre os limites éticos para esse tipo de terapia. “Vai depender das circunstâncias e das crenças das pessoas que julgarão isso”, diz a pesquisadora Kathleen Taylor.

Seis casos famosos de lavagem cerebral



Imagine perder o controle de seus pensamentos e virar uma espécie de robô que age da forma desejada por um político, um religioso ou uma empresa. Esqueça, porém, a imagem de alguém alterando seu cérebro com choques, cirurgias ou pílulas. Não há fórmula mágica na lavagem cerebral. “Trata-se de uma aplicação de técnicas psicológicas comuns, mas em um nível muito extremo e coercitivo”, diz Kathleen Taylor, pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e autora de Brainwashing – The Science of Thought Control (“Lavagem cerebral, a ciência do controle do pensamento”, sem edição no Brasil). O conceito de lavagem cerebral remete a um termo do mandarim, “hsi-nao“, usado na meditação para definir a limpeza da mente ou do coração. Ele surgiu nos anos 1950, quando o jornalista norte-americano Edward Hunter buscava uma explicação para a súbita mudança de comportamento de soldados de seu país. Eles haviam sido reféns de chineses e norte-coreanos na Guerra da Coreia e, ao voltarem aos EUA, tornaram-se comunistas ferrenhos. 
Casos famosos
Comunistas chineses e líderes de seitas radicais usaram e abusaram da lavagem...

PATRICINHA MARXISTA
Patty Hearst, herdeira de uma família rica dos EUA, foi sequestrada em 1974 pelo grupo de esquerda Exército Simbionês de Libertação. Ela reapareceu dois meses depois, assaltando um banco ao lado de seus algozes. Em 1975, ao ser presa, Hearst defendia os valores da organização, como o fim da monogamia. A defesa alegou lavagem cerebral, mas ela foi condenada. Em 2001, recebeu perdão do Estado
FÉ QUEBRADA
O padre italiano Francis Luca foi preso pelos comunistas na China. Ele foi torturado e submetido a intensa pressão psicológica até ceder e fazer as confissões desejadas, como atividades ilegais e “pensamentos errados”. Luca passou a criticar o catolicismo e disse ter ligações com o presidente dos EUA Harry Truman, fato jamais provado. Durante o tempo preso, ajudou seus captores a obter confissões de outros prisioneiros. Ao ser solto, não voltou a ser padre.

FÉRIAS NA PRISÃO
Outro ex-prisioneiro do governo chinês, o jesuíta francês Simon (o sobrenome é desconhecido) sofreu brutalidades, segundo seus companheiros de prisão. Ainda assim, em entrevista ao pesquisador delavagem cerebral norte-americano Robert Lifton, descreveu o período como “um dos melhores da vida” e negou ter sido agredido. Manteve-se católico, mas passou a ser muito crítico aos colegas de religião e a defender abertamente o comunismo.

UTOPIA JAMAICANA
Lee Boyd Malvo, imigrante jamaicano nos EUA, participou de uma série de ataques a tiros que mataram dez pessoas na região de Washington, em 2002. No julgamento, alegou ter sofrido lavagem cerebral de John Allen Muhammad, o homem que o levou ao país dizendo que eles ganhariam dinheiro chantageando o governo. Com a grana, iniciariam uma comunidade utópica de jovens negros. Hoje, Malvo cumpre prisão perpétua, enquanto seu mentor foi executado em 2009.

A TURMA DO CHARLES
De infância turbulenta, com passagens por reformatórios e prisões, Charles Manson reuniu ao redor de si uma seita, formada majoritariamente de jovens mulheres. A “família” pregava o sexo livre e o ódio ao capitalismo. Em 1969, seus seguidores mataram sete pessoas na região de Los Angeles, incluindo a atriz Sharon Tate, grávida de oito meses. Manson alegou não ter participação nos casos, pois sequer estava nas cenas dos crimes, mas o júri considerou que ele influenciou fortemente os assassinos. Hoje, cumpre prisão perpétua.

MASSACRE AMAZÔNICO
Jonestown era uma comunidade na Guiana criada pelo reverendo norte-americano Jim Jones. Nesse “paraíso na Terra” à margem da lei, ele pregava sobre o fim do mundo. Em 1978, quando surgiram denúncias de tortura, uma comissão formada pelo Congresso dos EUA foi à Guiana investigar. Houve troca de tiros com o braço armado da seita e Jones promoveu um suicídio coletivo, envenenando centenas de seguidores. No total, 918 pessoas morreram

CONSULTORIA Kathleen Taylor, psicóloga e especialista em neurociência da Universidade de Oxford (Reino Unido) 
FONTES Livros Brainwashing, de Kathleen Taylor, Dark Psychology 101, de Michael Pace, Banned Mind Control Techniques Unleashed, de Daniel Smith, Thought Reform and the Psychology of Totalism, de Robert Lifton, e The Search of Manchurian Candidate, de John D. Marks

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