Shakespeare existiu mesmo?

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Nos últimos 100 anos, mais de 4,5 mil livros e artigos alegam que William Shakespeare, o inglês de Stratford-upon-Avon que viveu entre 1564 e 1616, não teria sido o autor das obras atribuídas a ele. Veja alguns argumentos.

1) “Ser ou não ser, eis a questão”
Um dos primeiros a levantar a polêmica foi James Wilmot, acadêmico de Oxford que viveu perto de Stratford-upon-Avon, cidade-natal do “bardo”. Em 1785, ele procurou evidências que provassem a autoria de Shakespeare, mas não achou nenhum vestígio. Seu “estudo”, que acendeu a dúvida de muita gente, teria sido publicado pelo colega James Cowell, em 1805
2) “Nem tudo que reluz é ouro”
As mais de 40 peças e 154 sonetos apresentam um vasto conhecimento em diversas áreas, como política, geografia e latim – sendo que Shakespeare só teria passado apenas cinco ou seis anos na escola, segundo historiadores. Além disso, as obras utilizam mais de 29 mil palavras diferentes, um vocabulário maior que o do dicionário de inglês da época
3) “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a sua filosofia”
Os defensores dessa tese consideram mais plausível que Shakespeare tenha sido um pseudônimo usado por pessoas mais instruídas, como o filósofo, cientista e político Francis Bacon, ou Christopher Marlowe, um dramaturgo assassinado aos 29 anos. Há quem diga que sua morte foi forjada e ele continuou escrevendo, sob o nome de Shakespeare
4) “Meu reino por um cavalo”
Os registros indicam que o dramaturgo começou a escrever aos 23 anos. Para os céticos, é difícil acreditar que ele já tivesse, nessa idade, a vivência e a experiência necessárias para criar tramas tão complexas. Isso porque, até os 18, ele viveu em Stratford, uma cidade pequena, onde passou a maior parte do tempo trabalhando com o pai, um fabricante de luvas.
5) “O ciúme é um monstro de olhos verdes”
Intelectuais como o cineasta Charles Chaplin, o psicólogo Sigmund Freud e o escritor Charles Dickens já declararam apoio à teoria (confira outros adeptos famosos em doubtaboutwill.org). A alternativa mais aceita entre eles é que o real autor seria Edward de Vere, o 17º Conde de Oxford, que teria vivenciado fatos semelhantes aos descritos nas peças
6) “O resto é silêncio”
Um dos poucos documentos reconhecidos de Shakespeare é seu testamento, que tem três páginas, mas não faz referência à sua vida particular nem à sua obra literária – muito menos às peças então inéditas,publicadas após sua morte. O documento também não cita a parte da sociedade que ele tinha no Globe Theatre, palco em que foram encenados Hamlet e Rei Lear
7) “O que não tem remédio, remediado está”
Não existe nenhum manuscrito original de suas peças – nem sua caligrafia é conhecida. Em várias das primeiras publicações do autor, o nome sofreu variações na grafia, como Shake-Speare (algo como “agitar uma lança”), o que seria um pseudônimo em referência à mitologia grega ou ainda uma evidência de autoria coletiva.

POR OUTRO LADO…
Documento falso pode ter dado início à boataria
– Estudos recentes indicam que o manuscrito de Cowell, que originou a controvérsia, é uma falsificação, provavelmente feita por Olívia Serres, biógrafa de Wilmot
– A grafia do nome era pouco relevante nos documentos que eram manuscritos e dependia muito da interpretação subjetiva do escrivão
– Os inúmeros estudos acadêmicos sobre Shakespeare comprovam que ele existiu – e era mesmo um gênio, especialmente na elaboração psicológica de seus personagens
– O Conde de Oxford morreu em 1604, muito antes que as principais obras de Shakespeare tivessem sido escritas
– Também era comum um dramaturgo se inspirar em outro ou mesmo escrever a quatro ou mais mãos. Quando um texto era vendido para uma companhia de teatro, ele não pertencia mais aos autores.

FONTES Como Shakespeare Se Tornou Shakespeare, de Stephen Greenblatt, e Quem Escreveu Shakespeare?, de James Shapiro; Instituto Shakespeare Brasil, Universidade de Stanford e site Shakespeare Authorship
CONSULTORIA Ronaldo Marin, professor da Unicamp com doutorado sobre William Shakespeare

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